quarta-feira, abril 23, 2008

INEM

Mesmo tendo escrito este texto noutro blog, faz todo o sentido pô-lo aqui também, mesmo não contribuindo para este há muito, muito tempo.

Tenho andado longe e sem vontade de escrever, mas as múltiplas notícias referentes ao INEM, onde também eu presto serviço, obrigam-me a algumas reflexões. Espero que nenhuma delas atente contra as claúsulas de confidencialidade que tive de assinar (será que isto também não se podia dizer?).

Nos últimos anos o território nacional foi dotado de VMERs (Veículo Médico de Emergência e Reanimação). Foram instaladas como uma mais-valia no apoio ao socorro pré-hospitalar. As actuais políticas de saúde viram-nas como possíveis substitutos às urgências hospitalares. Há várias razões pelo qual é um erro estratégico claro.

As urgências são compostas por mais ou menos profissionais de saúde, com alguma capacidade de adaptação à maior ou menor procura. Quando um hospital recebe dois doentes graves, ambos podem ser tratados, em detrimento das situações menos graves. Mesmo as situações de menor gravidade, são atendidas com menor ou maior espera. Para esta balança entra a gravidade da situação (aferida pela triagem de Manchester) versus os recursos humanos da Unidade de Urgência.

Ora no contexto pré-hospitalar as coisas não se processam desse modo. Não temos sistemas redundantes. Ou seja, se formos chamados para uma situação a 10Km da nossa base, não podemos ir tratar de outra situação a 20Km na direcção oposta. É um sistema de Sim/Não na resposta às urgências da população.

Para mais que muitas vezes estamos ocupados, não em situações de emergência pré-hospitalar, mas de transferências inter-hospitalares, que por razões técnicas ou políticas nos solicitam. Um exemplo disto é o transporte de grávidas em trabalho de parto até à maternidade mais próxima.

O segundo ponto é que se é inaceitável que uma urgência hospitalar feche as portas durante umas horas por falta de staff o mesmo não acontece com as VMERs. Há várias razões para isto. 1º porque os serviços de urgência são (ainda e felizmente) redundantes. Ou seja se alguém falta à última da hora e não é substituível (por motivos de doença súbita, p.e.) o trabalho desse elemento é diluído na restante equipa. Tal não acontece numa VMER, cujos turnos são constituídas por um médico e um enfermeiro. A segunda razão é que estas equipas são constituidas maioritariamente por médicos e enfermeiros que têm outro local de trabalho (num serviço do hospital ou num centro de saúde). Os turnos de VMER são feitos em tempos lvres. Há algum profissionalismo das equipas para mesmo em dias difíceis (Natal, p.e.) os turnos não estarem desfalcados. Mas ninguém pode ser obrigado a fazê-los, pois depende das disponibilidades de cada um. Para mais, os Hospitais, embora já empresarializados, ainda funcionam muito em estilo função pública. Os seus horários são definidos como 'todas as manhãs e algumas tardes', não dando espaço a que fiquem com manhãs livres para poderem ocupar a VMER. Os hospitais ainda vêem as VMERs como um brinquedo, ainda não a vêem como uma prioridade.

O apoio domiciliário/local de VMERs não pode ser visto como um direito universal. Não está ao acesso de todos, a toda a hora.

As VMERs são como os ventiladores e vagas em Unidades de Cuidados Intensivos. São poucos, porque tecnicamente exigentes e caros. Não devem ser vistos como a panaceia para todos os males. Devem ser usados com conta e medida, usando protocolos bem estabelecidos. E há que garantir alternativas para quando não estão disponíveis.

Comentários:

Um bom regresso!
Mais um excelente argumento a juntar a vários já enaltecidos pela comunicação social contra o fecho de várias urgências e a utilização da VMER (INEM) como salvação nacional.

Espero que ainda consigas um tempinho para aqui escreveres algumas coisas.

aquele abraço  

A questão da operacionalidade das VMERS surge pela desresponsabilização do INEM relativamente ao funcionamento dos operacionais das mesmas. É assumidamente um problema conhecido a falta de reformação dos operacionais das VMERs.
A aopsta deveria ser cada vez mais em reformação e constituição de contratos para a dita.
Actualmente a actividade é feita com moderado profissionalismo e muito boa vontade, pois a remuneração é baixa. Profissionalizem a subeespecialidade de emergência pré hospitalar. Nem competência em medicina pré hospitalar existe.....

Tentem fazer um seguro profissional que cubra emergência pré-hospitalar.....  
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