sábado, dezembro 11, 2004
Um pouco de ciência
“Já viu bem a sua cara… se não para de fumar não tem mais de 1 ano de vida!!!”
Assim fala Dra. M soerguendo-se na cadeira e colando o indicador ao nariz do ofegante Sr. J (que só não desaparece porque o volumoso abdómen impede o movimento de deslizar sob a secretária).
“Brutal!”(penso).
A verdade é que logo após entra o Sr. A. com o já habitual presunto natalício: “se não fosse a Doutora…já passaram 10 anos desde que me avisou que a fumar como fumava, não tinha 6 meses…e eu parei… e ainda cá estou! É uma santa!”. A doente seguinte irrompe pelo consultório e mostra triunfante o historial irrepreensível da sua tensão arterial dos últimos 3 meses (tudo à custa da toma escrupulosa dos 4 anti-hipertensores e “da conversinha que tive com a doutora”). No mesmo dia conheço o Sr. L que se livrou do álcool quando a abençoada doutora há 7 anos vaticinou que “ia morrer de cirrose se não parasse imediatamente de beber!”).
Isto não se aprende nos livros de texto meus amigos. Critiquem-lhe a rudeza, a falta de tacto ou a distorção da verdade, mas nunca a seu sentido clínico, a sua dedicação aos doentes e muito menos a sua ciência.
Assim fala Dra. M soerguendo-se na cadeira e colando o indicador ao nariz do ofegante Sr. J (que só não desaparece porque o volumoso abdómen impede o movimento de deslizar sob a secretária).
“Brutal!”(penso).
A verdade é que logo após entra o Sr. A. com o já habitual presunto natalício: “se não fosse a Doutora…já passaram 10 anos desde que me avisou que a fumar como fumava, não tinha 6 meses…e eu parei… e ainda cá estou! É uma santa!”. A doente seguinte irrompe pelo consultório e mostra triunfante o historial irrepreensível da sua tensão arterial dos últimos 3 meses (tudo à custa da toma escrupulosa dos 4 anti-hipertensores e “da conversinha que tive com a doutora”). No mesmo dia conheço o Sr. L que se livrou do álcool quando a abençoada doutora há 7 anos vaticinou que “ia morrer de cirrose se não parasse imediatamente de beber!”).
Isto não se aprende nos livros de texto meus amigos. Critiquem-lhe a rudeza, a falta de tacto ou a distorção da verdade, mas nunca a seu sentido clínico, a sua dedicação aos doentes e muito menos a sua ciência.
Comentários:
«Inicial
Há doentes que têm de ser assustados, há doentes que só sendo rudes e brutos é que percebem, é que baixam as suas defesas de 'eu sou de ferro'. Por outro lado, há aqueles que se chocam com tais atitudes, mudando até de médico. O bom médico é aquele que ao fim de uma ou duas consultas está apto a arriscar uma postura, achando que essa é a abordagem mais correcta, brando ou hostil. Temos de nos adaptar ao indíviduo à nossa frente e não o contrário.
É isso McCap! O nosso trabalho não termina quando medicamos um hipertenso ou aconselhamos o fumador a deixar de fumar, o exercício da medicina é pleno quando o hipertenso está controlado e quando o fumador deixou de o ser. Não nos ilibemos de responsabilidades!
Boa Betadine... Continua!!!
Há muita "ciência" que não vem nos livros e só a experiência e o gosto por aquilo que se faz é que permite aprender essa "ciência das emoções". Penso que a isso se chama inteligência emocional...
Há muita "ciência" que não vem nos livros e só a experiência e o gosto por aquilo que se faz é que permite aprender essa "ciência das emoções". Penso que a isso se chama inteligência emocional...
Pelo que dizem, as crianças têm necessidade de sentir que existe alguém que impõe as regras, que funciona como "a autoridade". E também dizem que quando as crianças testam "as autoridades" o que querem, no fundo, é medir até que ponto estas se preocupam. Quando estamos doentes somos todos crianças? E não nos importamos nada que alguém nos trate como tal e mostre que se preocupa mesmo connosco? Claro que, tal como acontece com os "educadores" só um bom médico consegue fazer isto e ganhar o respeito e a ternura de um paciente.
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