quarta-feira, fevereiro 06, 2008

A Alma não se Vende

Desde pequeno que me dizem que no centro temos a Alma. O mesmo se passa com as cidades, é no seu coração que encontramos a sua Alma, a sua história, a sua cultura, ... O Porto não é diferente. É no seu coração que está a Av dos Aliados, a Torre dos Clérigos, o Coliseu, o Rivoli, a Sé, a estação de S. Bento, e não poderia faltar o seu Bolhão.
Pois este Bolhão que tem andado nas bocas do meio povo, e não pelas melhores razões. Diz-se então que o edil da cidade pretende vender este símbolo do Porto, uma parte da sua Alma. Que pretende transformar um espaço de comércio aberto, num centro comercial (mais um!). Não fosse isto afronta suficiente, ainda quer deixar algum espaço para habitação. A desculpa é sempre a mesma, a de querer fazer renascer a Alma do nosso Porto.
Já por várias vezes referi Covent Garden, como exemplo de um futuro auspicioso para o nosso Bolhão. É claro que não faz sentido, para mim e nos dias que correm, um mercado simplesmente virado para o comércio tradicional. Sou da opinião de um Bolhão dado àqueles que usufruem da Baixa do Porto, um espaço de convívio e de comércio, um espaço disponível durante o dia e durante a noite, um espaço versátil e que se adapte às necessidades, um espaço que seja capaz de atrair os transeuntes. Um Bolhão com estas características seria capaz, penso eu, de atrair mais gente à sua envolvência, mais população à Baixa do Porto e mais "fregueses" ao comércio tradicional.
Assim proponho: um Bolhão virado para a Cultura, com animação cultural diversificada durante todo o ano; um Bolhão para o convívio e negócio, com cafés, salões de chá e restaurantes (não McDonald's ou outras lojas de fast food); um Bolhão para a diversão, com alguns bares que estando num espaço amplo dentro de 4 paredes não criam os incómodos que existem na Ribeira; um Bolhão tradicional, com pequenas lojas de comércio (floristas,...); um Bolhão com um exterior mais moderno (em termos de lojas), aí sim com uma ou outra loja de fast food (sem luminosos), com cafés, com muito comércio; no fundo um Bolhão plural, actual, moderno e tradicional.

Comentários:

Caro Sr.,
Desde que descobri o espaço que o Rivoli proporcionava, sempre que me encontrava no Porto, geralmente ao fim de semana, ia para o café Livraria ler, estudar ou simplesmente descansar.
À noite, acabava por ir com amigos para o piso superior para o bar.
Frequentemente, ia para o café Brasileira e di Roma, evitando-los somente pelo intenso consumo de tabaco.
Como não eu era o único a usufruir destes benefícios, obviamente que este espaço estava a proporcionar a dinamização que a baixa portuense tanto requer...
Recentemente, pura e simplesmente fecharam o café livraria e nem me recordo ao certo o que aconteceu ao bar, mas sei que perdi esse hábito agradável. Como as alternativas já referidas habitualmente estavam poluídas demais para me motivar, também não as frequentava.
Actualmente, deixei de frequentar esses espaços e, mais uma vez, não julgo ser o único.
Assim, pergunto se realmente nos orgãos de gestão há um real interesse em dinamizar a baixa, ou se é apenas "fogo de vista"...
Acredito que se deve incentivar os residentes a permanecerem, mas não acredito que o melhor custo-benefício seja através da construção de habitações.
Há várias razões para se deixar de habitar no centro.
Uma são os espaços limitados e envelhecidos, cuja solução mais efectiva seria facilitar burocraticamente a reabilitação e apoiar tecnicamente. Creio que apoios financeiros não sejam a solução mais eficiente dada a sua tendência a "má aplicação".
Um outro ponto muito importante, é a segurança. Este ponto é muito controverso. Após ter visitado algumas cidades sob videovigilância, começo a aceitar contra o meu gosto que esta solução é a provavelmente a menos dispendiosa para maior eficácia. Exige obviamente que seja utilizada eticamente, e sob forte fiscalização. O interesse desta não é multar o senhor que atravessa fora da passadeira ou o carro que parou para deixar alguém, mas sim garantir que o crime violento não saia impune. Se existisse uma forte consciência ética, seria uma solução útil. Na nossa sociedade...ainda questiono infelizmente qual a real utilização que lhe dariam.
Um outro ponto a referir, é a mobilidade.
Temos uma população tendencialmente envelhecida para quem soluções de transporte público, apesar de úteis, são muitas vezes insuficientes. E devemos relembrar que a população que ainda reside na cidade reflecte ainda mais essa inversão da pirâmide etária!
A limitação da utilização do automóvel é muito bonita no papel, inútil e quase sempre negativa na prática. Cessa o uso do automóvel e desaparecem habitantes e clientes. É fácil construir cidades maravilha se não fosse o cidadão... sem poluição, congestionamento ou crime.
Sejamos francos, hoje o automóvel é um factor determinante na vida duma cidade, bem como os transportes públicos eficientes.
Deste modo como podemos conciliar uma cidade pedonal com o veículo individual?
Dou os parabéns à Câmara por ter criado corredores próprios para transportes públicos mas sempre mantendo alternativas mais demoradas mas viáveis para os restantes. Congratulo ainda a iniciativa de cingir a restrição na Av. Fernão Magalhães apenas às horas de maior intensidade. Fora dessas horas, o benefício do trajecto mais directo não prejudica o transporte público mas beneficia todos.
Que mais há a fazer?
O túnel da P. Filipa Lencastre-H.S.João é um excelente exemplo. (Apesar de julgar que mais uns metros subterrâneos o favorecessem ainda mais.)
Permite-se a circulação e paragem nesta zona, sem prejudicar quem a deseja atravessar. Beneficia-se a fluidez global, mas facilita as pequenas paragens à superfície que são importantes para comércio e para animar a cidade.
Creio que outra solução muito vantajosa seria a união da Av. Fernão Magalhães ao centro, aliviando a zona do Bolhão. A questão é se tecnicamente é viável, mas acredito que uma solução destas ou similar iria aumentar drasticamente a fluidez e facilitar a vivência nestes espaços.

Podemos renovar o Bolhão, já temos o Via Catarina e o novo Shopping ao lado, o Rivoli podia voltar a abrir-se à cidade.Mas se tivermos autocarros "estacionados" nas ruas, impedindo que as pessoas caminhem ou interajam de carro, teremos na mesma uma cidade estrangulada pela poluição aérea, sonora e visual pouco apelativa...

Já não menciono o incentivo que se deveria dar à construção de garagens, nomeadamente a ratio maior de garagens por apartamento novo, para incentivar os residentes a não fugir do centro e reduzir o estacionamento prolongado nas ruas. Deste modo sobra mais espaço para quem visita a cidade ou quem se desloca nesta para fazer múltiplas paragens, o que vem animar a cidade e, sobretudo, incrementar a procura de comércio tradiconal.
Enquanto amante da Invicta, quero que tenha mais residentes, mais visitantes, mais turistas, mais compradores, mais comércio. Perdoem se sou romântico, mas acredito que podemos fazer mais e melhor!  
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