sexta-feira, dezembro 31, 2004

Virar de página...

Caros amigos, pois é... está a chegar ao fim o ano de 2004!

Para uns terá sido um ano mau. Para mim, pode-se dizer que foi o 1º ano do resto da minha vida... É verdade! Em 2004 (a 2 de Janeiro mais precisamente) tornei-me trabalhador, deixei de ser um estudante irresponsável para passar a ser um funcionário público exemplar (nem 1 dia só me esqueci de assinar o livro de ponto...)

E, juntamente com essa mudança de estatuto, vieram os encantos e desencantos de ser médico. Veio o orgulho de devolver um sorriso a alguém que o tinha perdido, veio a alegria de "dar alta" aos doentes internados, veio o alívio de aliviar o sofrimento aos que sofriam. Mas veio também a ansiedade de saber se estava a fazer as coisas certas, a dúvida sobre o resultado das minhas acções, a imperiosidade de encarar a morte de frente.
Foi o ano em que morreu o meu 1º doente... mas foi também o ano em que o 1º ficou curado. Foi o ano em que tive a felicidade de passar pelo papel de doente (felizmente sem grande gravidade, mas com a necessidade de recorrer a cuidados hospitalares).
Aprendi muito neste ano, a nível técnico, científico, mas essencialmente... humano. Tive a experiência dos bons e maus momentos. Tornei-me "mais homem"... e conheci a medicina por dentro.

Também a nível pessoal foi um bom ano. Dispenso-me a contar os pormenores... Digo apenas que Fernando de Noronha e a República da Irlanda, são 2 viagens que valem a pena... Pode ser que um dia ainda conte algumas crónicas destas viagens...

A nível de "mundo", há a realçar o ano do Dragão... em que o MEU FCP conquistou a europa e o mundo... Foi o ano do Euro 2004 e do "endeusamento" da besta do "escolari". O ano do "apito dourado" e da "casa pia". Foi o ano em que Portugal perdeu o respeito pelo PdR... Uns porque nomeou PSL, outros porque o demitiu, enfim... pior era impossível. Um português foi para Presidente da UE agora a 25. Tivemos de enfrentar algumas mortes trágicas e dolorosas (destaco as de Carlos Paredes e Sophia de Mello Breyner) e o ano terminou da pior forma possível com uma das piores tragédias da história da humanidade...

Não pretendo com esta mensagem fazer um balanço do ano... esse balanço deve ser feito dia-a-dia. Parafraseando um grande amigo (és grande chaleco): "Não faz sentido a ousadia / de chegar ao fim do dia, / sem o dia rever...". Pretendo apenas relembrar algumas das coisas que mais me marcaram neste ano e celebrar a chegada de 2005 com todos os leitores destas palavras.

A todos um excelente 2005 e que todos os projectos que têm se possam realizar. A nível pessoal, só espero que a medwoman continue a ser o Sol que aquece os meus dias, que possa ter sucesso na minha profissão e que possa de alguma forma ajudar aqueles cujo caminho se cruzar comigo. Ah... e claro, que este blog cresça saudável e viçoso...

Por cada ano que se acaba... um novo ano começa!

Comentários:

Um ano 2005 excelente para ti e para todos aqueles que estão de alguma forma relacionados com este blog!  

um fantástico 2005!
e com essa vontade toda, com esse espirito,só te posso desejar que tudo se realize conforme tens planeado,mas também conforme a onda da maré! é sempre bom o cheiro a maresia...  

Um 2005 em grande!
Sortudo, a partir de Julho estás safo... Eu peno até Outubro! :)
Um abraço, e que a nossa pequena comunidade de "blogs médicos" cresça toda junta saudável e viçosa!  

1 ano? Ainda estás muito verde... espera mais 15!
E ainda por cima do FCP!!!  
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quinta-feira, dezembro 30, 2004

Special collector's Edition

Para quem gostou das histórias do centro de saúde, qual saga Hollywoodesca, aqui ficam as hiperligações para a trilogia completa...

Histórias do CS - uma nova esperança
Histórias do CS (II) - o regresso dos doentes
Histórias do CS (III) - os doentes contra-atacam

A partir de 3 Janeiro, não perca num blog perto de si a nova trilogia do Serviço de Pediatria de um hospital central:

Histórias da Pediatria - O senhor das chupetas!

Comentários:

meu... estavas com a pica...
Bom ano !  

Ainda bem que este blog existe... Já estou preparada psicologicamente para o que me espera...
Tenho a sensação que as "licenciaturas em Medicina" não são exclusividade dos utentes desse CS... São algo de parecido com homenzinhos de barrete vermelho na época natalícia...pululam!!  

Desculpa lá...esqueço-me sempre... era a medwoman.  

Pois eu ainda não sei o que me espera no dia 3, mas tb é possível que seja a Pediatria... Estaremos uns tempos em "sintonia infantil"? Um abraço!  
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Histórias do CS (III)

Hoje foi o meu último dia no CS... e entre as baixas fraudulentas, os atestados verdadeiros, os 180 minutos a preencher cabeçalhos de receitas e as declarações médicas necessárias para se utilizar as casas de banho públicas do quartel dos bombeiros, ainda houve tempo para recolher umas histórias...

Mas antes disso, algumas interrogações sobra o (ab)uso dos centros de saúde:
  • De que vale chegar ao CS às 7 da manhã se o respectivo só abre às 8 e a consulta está marcada para as 11?
  • Porque é que alguns utentes se queixam que não conseguem consultas "já há mais de 6 meses" e outros estão lá todas as semanas?
  • Como é que um médico pode "atestar por sua honra" - reparem bem, honra - que a pessoa não pode trabalhar porque lhe dói as costas? Quem mede a dor?
  • Porque é que os antidepressivos são comparticipados se se escrever na receita Portaria 543/2001 e se não se escrever não são?
  • Porque é que os utentes do CS só se lembram dos seus direitos e nunca dos seus deveres?
  • Quem é que inventou a frase: "Eu tenho os meus direitos, porque pago impostos!!!" - Eu também tenho direito a ter um bom ambiente de trabalho, onde me possa sentir bem... E também pago impostos...
E como prometido, algumas histórias...

"- Ó Sr. João, diga-me o seu número de telefone, para ficar aqui no processo, porque pode ser preciso entrar em contacto consigo.
- Como diz Sr. Doutor?
- O SEU NÚMERO DE TELEFONE!
- Ah doutor... Eu agora não tenho telefone... Só tenho senóbel...
- Só tem o quê?
- Senóbel doutor...
- Então dê-me lá o número.
- 91722........."
Ah... Agora já sei o que é um senóbel.... Acho que preciso de comprar um novo!!!

"- Então D. Eduarda, diga lá o que a trás por cá.
- Ó doutor, é para o doutor me passar uma requisição para fazer umas análises ao sangue, aos açucares e ao castrol. E também quero que me passe umas vitaminas..."
Com as TA's não se preocupa ela... Estive mesmo para lhe perguntar onde é que tinha tirado o curso... Já que parecia saber tão bem quais os exames que precisava e qual o tratamento!


"- Então Sr. Vicente. O que vem cá fazer hoje?
- É para fazer as análises de rotina, que já há muito tempo que não faço...
- Ó Sr. Vicente, mas tem aqui análises de há 6 meses.
- Pois é doutor, mas na minha idade, temos que fazer análises 2 vezes por ano. Que eu sei...
- Mas olhe que não é preciso Sr. Vi...
- Ai é, é. Que eu sei. Foram umas doutoras na farmácia que me disseram..."
Olha outro que tirou o curso no vão de escada...

"16h. A meio de uma consulta. TOC TOC
- Sim, quem é?
- Sou eu doutor. Quero que me veja agora, que estou muito doente...
- Espere aí um bocadinho que agora não posso. Estou a meio de uma consulta.
- Ai, tem de ser agora, que estou muito doente...
- Deixe-me terminar esta consulta que falo já consigo.
...
16h10m
- Entre D. Josefa.
- Olhe doutor. Eu estou muito doente e o doutor tem que me passar a baixa e pedir consulta para o hospital. E tenho aqui os exames que o doutor pediu para o doutor pedir.
- Como? Explique lá isso D. Josefa.
- Então... Eu hoje de manhã acordei e doía-me muito as costas. E como o doutor não estava cá de manhã, fui ao da privada. E ele disse que tinha que fazer exames e tinha que vir cá para buscar a "baixa".
- Mas... A D. Josefa já sofre das costas há mais de 10 anos. E tem aqui exames que fez ainda não tem 3 meses...
- Mas esses exames não prestam... Já estão desactualizados. E quero consulta no hospital, por isso tenho que levar exames novos.
..."
Hoje só me saem médicos na consulta. E ainda há quem diga que em Portugal há falta de médicos... E a educação e o respeito??? Não passam de um mito!

"- Boa tarde D. Francisca. Vem cá para renovar a "baixa"?
- É doutor... Mas...
- O que se passa?
- A semana passada fui chamada à junta médica das "doenças prefessionais", e eles disseram que não tinham lá exames e precisavam de exames novos.
- E á para isso que vem cá?
- Não doutor. Eles pediram os exames e já os fui fazer. E depois disseram para aguardar em casa que me chamassem. E ontem, chamaram-me da junta médica para rever a baixa.
- Sim, e então?
- Então, disseram-me que como não tinha exames recentes, me iam cortar a baixa. E eu disse que não podia trabalhar. E eles disseram-me para tratar disso com o "médico de famelia"
- Mas ó D. Francisca, se eles lhe tiraram a baixa, eu não a posso dar outra vez.
- Mas eles disseram que se o Dr. achasse que eu não podia trablhar, para passar a baixa outra vez..."
E agora... Tem baixa ou não tem? A junta de doenças profissionais manteve, a de revisão de incapacidade tirou (porque não tinha exames - quando a doente se queixa de limitação dolorosa dos movimentos do braço). Acho que já há uns dias disse qualquer coisa acerca de comunicação...

E assim vai o SNS... A culpa, de quem é??? Do médico, obviamente, que ainda não se revoltou contra o estado das coisas e continuar a tentar "desenrascar"...

Comentários:

Só queria explicar porque é que as pessoas se dirigem ao Centro de Saúde às 7 da manhã quando têm consulta marcada para as 11..... Aprendi da pior maneira...

Há uns tempos atrás precisei consultar a minha médica de família. Fui ao CS e marquei consulta. Fui informada pela funcionária que a mesma se realizaria às 11 horas. E eu, na minha ignorância de utente pouco assídua do CS, cheguei no dia marcado às 10.45... RESULTADO? Fui atendida às 13.30!!! PORQUÊ? A Sra Doutora começou or chegar atrasada, mas enfim, suponho que acontece... mas o que me fez confusão foi ter percebido que todas as pessoas presentes tinham consulta marcada para as 11!!! Quem vai chegando tira uma senha e a consulta é dada por ordem de chegada... Será escusado dizer que fui a última a ser atendida... Esclarecido?  
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Aviar o receituário...

Instituir a terapêutica é um dos actos fundamentais de qualquer actividade médica. Quer o tratamento seja uma conversa, uma alteração do estilo de vida, um medicamento ou uma intervenção cirúrgica.
E em muitos destes casos, a intervenção terapêutica é instituída numa doença dita "crónica", ou seja que tem uma evolução arrastada no tempo, anos normalmente, e em muitos dos casos não tem cura, pelo que o tratamento é instituído ad eternum.

Serve tudo isto para quê??? Apenas para perguntar... PORQUE RAIO é que as receitas só permitem a prescrição de 4 embalagens de medicamentos? E porque é que em todas é preciso o médico ter os seus dados pessoais 2 vezes e fazer pelo menos 2 assinaturas? Será que o objectivo disto é POUPAR? Nenhum médico, no seu perfeito juízo, receita 3 embalagens de medicamentos se o doente só precisar de 1. E por outro lado, também não deixa de receitar se o doente precisar e para isso for obrigado a preencher mais papéis. A isto chama-se perda de eficiência, que já de si não é famosa, como todos sabemos...

Mas... Ponto 1, a quantidade extra de papeis é absolutamente inútil. Ponto 2, o tempo que o médico perde a preencher cabeçalhos de receitas, poderia ser muito mais útil a fazer outras coisas (e já nem digo a ver mais doentes, mas a explicar ao doente qual a forma correcta de encarar e tratar a sua doença...). Ponto 3, as receitas custam dinheiro, assim como as vinhetas do médico e a tinta da caneta que gasta a mais. Ponto 4, como os medicamentos acabam mais depressa, o doente vai voltar à consulta mais cedo do que o necessário para "renovar o receituário", muitas das vezes sem qualquer controlo da parte do médico, que se limita a "aviar" a lista de medicamentos que o doente "deve na farmácia" (onde lhos dispensaram sem receita médica - mas isso é outra história).

Ou seja, não consigo encontrar nenhuma vantagem nesta forma de receitas médicas, a não ser o puro prazer de "dar trabalho"...

Enfim... ainda se os médicos de família não tivessem mais nada para fazer... Sempre era uma actividade para os manter ocupados! E depois os utentes queixam-se que não conseguem consultas...

Comentários:

Apoiado!! :)  
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O quarto de banho do quartel dos bombeiros...

PORQUE RAIO é que neste país é preciso uma declaração médica para tudo??? Ele é declaração médica para ir à piscina, para fazer ginástica, hidroginástica, body-combat, karaté, spinning, aeróbica, step, musculação, taek-won-do, yoga, ginástica para a 3ª idade, corrida no parque, passear os cães... um dia destes, vai ser preciso declaração médica para usar as casas de banho públicas, não vá alguém sentir-se mal lá dentro!!!

Mas afinal, o exercício físico não é suposto fazer bem???
Então porque raio é que obrigam as pessoas a ir ao médico para dizer que podem fazer exercício físico??? DEVEM!!! Todos devem fazer exercício (obviamente adaptado às suas condições específicas).
E em que circunstâncias é que o médico vai dizer que não podem fazer???
Ah, já sei... É porque de quando em vez morrem uns atletas de alta competição com morte súbita... E vai daí, toca a fazer ecocardiogramas e TAC a todos aqueles que querem correr um bocadinho...

Há cerca de 15 milhões de anos que o Homem pratica exercício físico. Aliás, cada vez pratica menos... e não é com estes entraves burocráticos que vão passar a praticar mais! Porque é que quem vai correr com os cães para o Parque da Cidade não precisa de declaração médica e quem quer ir fazer Yoga, tem de ir ao sr. doutor para ver se ele autoriza???

Enfim... ainda se os médicos de família não tivessem mais nada para fazer... Sempre era uma actividade para os manter ocupados! E depois os utentes queixam-se que não conseguem consultas...

Comentários:

Sou dirigente da Associação de Estudantes de uma Faculdade de Medicina. A nível do Desporto Universitário, são exigidos atestados médicos para a prática de desporto amador. Tenho nas "minhas" equipas o caso de um judoca de alta competição (por sinal Campeão Nacional Universitário) que viu o seu atestado médico (passado pelo Centro de Medicina Desportiva) recusado para a prática de futebol, por este dizer que o atleta estava apto para a prática de Judo. E esta hein?

Uma outra estupidez é ser necessário um atestado médico para a prática de xadrez. Pela lei, um jogador de Rugby da Selecção Nacional não pode jogar xadrez sem um atestado médico que especifique a sua aptidão ou a mascare com um vago "apto para a prática desportiva".  
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quarta-feira, dezembro 29, 2004

Mil (1000) 10^3

Pois é... hoje estamos a comemorar as 1.000 visitas neste blog... Poderão alguns dizer que muitos blogs têm este número de visitas por dia, mas o nosso chegou lá em menos de 1 mês, por isso estou contente! OK, OK... eu sei que destas visitas pelo menos umas 860 são minhas... Não??? Pronto, 850, mas não desço mais... Mesmo assim, ainda conseguimos chegar às 150 visitas!!!

Desde já agradeço ao JC e ao médicoexplica a publicidade a este blog e ajuda que nos deram a transmitir algumas das mensagens, bem como a inspiração e a vontade para levar isto para a frente.

Escrever para um blog, diariamente, não é muito fácil. Há dias em que não nos apetece, há dias em que não temos nada para dizer, há dias em que queriamos dizer mas não temos tempo. Mas como contamos com a vossa participação diária, temos também que cumprir a nossa parte e "mensagiar" diariamente.

Um último agradecimento, muito especial como é óbvio, a todos vós que passaram por este blog e leram os nossos textos e a todos quantos deixaram comentários. Este blog pretende ser um espaço onde deixamos as nossas estórias, alguns instantâneos, desabafos e opiniões. Mas pretende ao mesmo tempo contar com a participação de todos quantos nos lêem e a quem, desde já convidamos a comentar as mensagens. Dêem a vossa opinião... Mostrem-nos se concordam connosco... ou se por outro lado acham que dizemos um monte de baboseiras... se vos fizemos sorrir, ou chorar; se gostam do sócrates ou do santana (ou de nenhum deles... :)); se acham que a culpa é sempre do médico, ou não.
Esperamos poder continuar a contar convosco e espero dentre em breve estar aqui a escrever uma mensagem acerca dos 10.000 visitantes deste blog!!!
Da nossa parte prometemos continuar por aqui e melhorar sempre que possível!!!

Obrigado a todos e até breve!

Comentários:

1000 visitantes e agora é a subir exponencialmente!
Continuem o bom trabalho que têm feito aqui neste blog!  

Não têm que me agradecer, a visibilidade que tenho dado ao vosso blog é mérito vosso. Se me interessam eu digo a quem se interessa pelo que eu digo... E também ainda estou na fase de me admirar com o facto de o que eu digo interessar a alguém!!  
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terça-feira, dezembro 28, 2004

Contém imagens chocantes!

As notícias que nos chegam do outro lado do mundo, são aterradoras.
O número de mortos continua a aumentar... Os corpos em putrefacção abundam; as famílias desfeitas, procuram os seus entes desaparecidos entre milhares de cadáveres; as epidemias de cólera e malária prevêm-se brutais; a ajuda internacional começa a chegar...

Mas não há palavras para descrever isto:

Aceh, Indonésia Posted by Hello


ou isto:

Sri Lanka Posted by Hello


nem mesmo isto:

Tailândia Posted by Hello


ou ainda isto:

Indonésia Posted by Hello
Estas e outras imagens na Corbis

De facto, assistimos à fragilidade humana em todo o seu esplendor. Podem ler aqui um testemunho impressionante de alguém que recentemente conviveu com esta gente que hoje não se sabe se está viva ou morta...

Como ajudar? De facto o dinheiro não é tudo... mas ajuda. Estão já em funcionamento na CGD duas contas para apoio às vítimas nesta tragédia, com os NIBs 003506970063091793082 (Cáritas) e 003501270002824123054 (UNICEF) e no BES com o NIB 000700150040000000672 (AMI). O meu contributo já lá está... Mas gostava de fazer mais... Por isso, vou-me inscrever como voluntário numa associação de apoio médico. Se não puder ajudar nesta catástrofe, ajudarei numa próxima que inevitalvemente virá a acontecer...

Que isto nos sirva de lição para estarmos preparados para uma catástrofe a qualquer momento...

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Acerca de Acreditar

Várias vezes na nossa prática clínica somos confrontados com a necessidade de acreditar na palavra dos doentes; porque muitas coisas, só mesmo os doentes sabem... Se dói, se não dói; se tem falta de ar, se não tem; se toma os medicamentos ou não toma...

Regra geral, o doente não mente... Regra geral, não regra absoluta... Há pelo menos 2 situações típicas onde o doente tem tendência para mentir... Na ingestão alcoólica e na alimentação...

Qual de nós nunca viu alguém que nega a pés juntos a ingestão de bebidas alcoólicas, mas contudo tem marcadores bioquímicos e físicos de abuso crónico de álcool (não vou revelar publicamente que marcadores são esses... porque aí reside o segredo do acto médico:)); ou por outro lado, doentes com obesidade mórbida que asseguram "por tudo o que tenho de mais sagrado" que cumprem a dieta religiosamente.
Há que realçar um facto: o papel do médico. O médico não é juíz, nem carrasco. Não faz juízos de valor. Não deve criticar... O médico deve aconselhar (enfaticamente) e alertar para as possíveis consequências, mas a época em que o médico decidia pelo doente já passou, embora a alguns "utentes" isso custe a encaixar: "o sr. doutor é que sabe..."; "se estivesse no meu lugar o que fazia?" ou "se o doutor manda, eu faço..."
Mas, hoje em dia, a decisão final (quer seja da terapêutica, quer seja de estilos de vida) cabe ao "doente"... por muito que isso custe a todos!

Curiosamente, noutros assuntos, tantas vezes considerados "tabu", existe uma maior "abertura" e "confiança" entre o médico e os seus doentes. A minha curta experiência, tem-me mostrado confiança total no médico, e "sinceridade" dos doentes em assuntos como toxicodependência, seropositividade, abortamento voluntário e hábitos sexuais.

Quanto ao tema dos hábitos alimentares, ainda hoje um doente obeso, diabético e dislipidémico, após recomendado que tinha que fazer dieta e exercício retrucou com esta pérola: "O doutor nem acredita no que eu como!!! Se comer menos desapareço!!!" Ai não acredito não... Porque ninguém engorda com ar e vento...

De qualquer forma ainda existem por vezes, sinceridades que nos espantam: Estava uma colega minha, na altura no 3º ano da faculdade, a aprender a fazer histórias clínicas. Teve, em determinado dia, que colher a história de um senhor internado com uma doença hepática crónica. Eis chegada ao ponto fundamental da história do consumo alcóolico (não, não vou contar aquela da colega que perguntou: "Quantas gramas de álcool bebe por dia?). A pergunta saiu, séria e confiante: "Quantos copos de vinho bebe por dia?"
A resposta... Ninguém estava à espera: "Ó menina... é melhor começar a contar em garrafões..."

domingo, dezembro 26, 2004

O Pós-Natal


O Homem que nada pode contra a força da Natureza... Posted by Hello

Para muitos, a crueldade do Mundo voltou bem cedo após o Natal... Para mais de 10.000, acabou cedo demais...
Um sismo, ou um tsunami são inevitáveis... tal como o são muitos cancros e muitas doenças cardíacas. Resta-nos aprender a lidar com esse "risco". Não vale a pena tentar procurar culpados, é bem mais útil tentar procurar ajuda e conforto. A nós (os que não fomos afectados) não nos deve chegar ficar "chocados" com as imagens e com as notícias. Cabe-nos a nós tentar ajudar...

Acho tão ridícula a preocupação das televisões com os "6 portugueses" desaparecidos... Até parece que não "desapareceram de vez" mais de 10.000 pessoas, ou só pelo facto de terem os olhos em bico, não têm direito ao mesmo "sofrimento colectivo"? Hoje assistimos a uma tragédia para a Humanidade, não uma tragédia para a Natureza e muito menos a uma tragédia para os países do Sudeste Asiático.
Infelizmente o pós-Natal tem-se tornado um período de más-recordações para a Humanidade... Será que isso é algum sinal???

sábado, dezembro 25, 2004

O meu Natal...


Este foi o meu Natal... Posted by Hello
Aqui está o Pai Natal, a descansar depois de um árduo dia a entregar presentes e a presentear-se com boas refeições. Em casa, em descanso, em paz com a família... Só faltou a medwoman que teve que trabalhar...

E as prendas... Consegui fugir às meias!!! Mas não escapei aos lenços de bolso nem às cuecas!!! DE QUE RAIO DE SÍTIO VEIO ESTA TRADIÇAO DE OFERECER MEIAS???
Já toda a gente sabe que ninguém gosta de receber meias ou cuecas... Porque é que continuam a gastar dinheiro nisso???
Mas de resto... Foram boas... €€€€, 1 livro e 1 perfume, 1 casaco e montes de chocolates!!! - afinal parece que me portei bem este ano. E por isso, fui afortunado por mais um BOM NATAL.

Mas... e este Natal, como terá sido?


Infelizmente o Natal não é para todos! Cabe-nos a nós fazer um bocadinho de Natal pelo mundo...

Mas passados estes dias frenéticos de SMS's de Natal, de compras no Shopping, de barretes vermelhos, recordes no Guiness envolvendo Pais Natais, de sorrisos e desejos hipócritas de bom Natal, vai voltar tudo ao mesmo... O debate político de tasca de aldeia, as manchetes televisivas qual "carrinha do peixeiro", os jornais de caserna que temos, o miserabilismo nacional, a crise, a falta de confiança, a falta de ideias e a culpa que é sempre dos outros...

Quero outro Natal... JÁ!!! E para todos...

Comentários:

Ainda nos restam os Reis Magos... pode ser... quem sabe...
Haja estrelas de boa qualidade.  

Pois bem,
Não faço questão de me referir aos presentes natalicios, mas, medman, este ano tive mais sorte que tu: nem peugas, nem cuecas, nem lencinho de bolso..... enfim um natal em grande.
Queria deixar aqui uma reflexão: que raio é que se passa este ano que os centros comerciais continuam cheios: num daqueles dias próximos a seguir ao natal fui até um centro comercial para comprar um presente para uma pessoa amiga que fazia anos e, qual não foi o meu espanto, o raio do CC tava cheio que parecia dia 23. Vai daí várias teorias se colocaram na minha cabeça, a saber: 1. Teoria do Masoquismo: a malta ressabiou da noite de dia 24 e de não ter tido AQUELE presente, vai dai vão para o centro comercial com primos, afilhados, tios dos primos e respectiva comitiva, dizer mal do que está nas montras (mas a remoerem-se todos por dentro); 2. Teoria da troca: depois dos sorrisos hipócritas na noite de natal a dizerem que adoraram os presentes que receberam, vai daí e logo na primeira chance foram a correr trocar o presentinho...... 3. Teoria do tuga: pois, tendo em consideração que houve tolerância de ponto como o caraças e que no dia 26 já tava tudo farto de aturar a sogra, o sogro, o cão e o piriquito, resolveu tudo sair para o CC para um bom Domingo à tarde tipicamente português. De notar que havia pouco fato de treino, provávelmente pq andava tudo a estrear a roupinha nova que recebeu no natal (devia ser natal todos os fins-de-semana).......  
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sexta-feira, dezembro 24, 2004

NATAL

O que seria do Natal sem os seus ícones?

O que seria do Natal sem o Menino Jesus deitado numas palhinhas com guarda de honra (mãe, pai, vaca, burro e 3 forasteiros montados a camelo e guiados por uma estrela - reparem no feminino: estrela - que os fez perderem-se pelo caminho e chegar 2 semanas atrasados à festa!!!)?
O que seria do Natal sem o Pai-Natal, esse avozinho simpático de barbas brancas, vestido de vermelho e com um gorro na cabeça, que consegue dar a volta ao mundo em menos de 24 horas num trenó puxado por renas?
O que seria do Natal sem os enfeites de Natal. Outrora com folhas e bagas de azevinho, mas hoje em dia com Pais-Natais a trepar por paredes e chaminés e uma verdadeira proliferação de luzes "piscadélicas" que chegam até a "ferir a vista"?
O que seria do Natal sem as rabanadas, sem o bacalhau ou sem a aletria da nossa avó?
O que seria do Natal sem frio... Sem uma lareira bem quentiha à volta da qual se reúnem as famílias durante tantos meses separadas pelas "necessidades da vida"?
O que seria do Natal sem os hospitais cheios de "velhos" abandonados pela família ou que simplesmente não têm família e não querem passar o Natal sozinhos...
O que seria do Natal sem a programação especial das televisões, sem as compras de última hora, sem as filas de trânsito, sem os acidentes de viação (que destroem famílias em vez de as unir).
O que seria do Natal sem SMS's, que desde o "boom" dos telemóveis vieram substituir os já tradicionais "postais de natal"?

E por aqui me fico... E para tentar ter um Natal sem SMS's, aqui ficam os meus votos de

FELIZ NATAL

para todos.

Muito especialmente para a minha medwoman, para os meus pais, para as minhas avós, para os meus familiares, para os meus amigos, para os meus GRANDES amigos, para a turma 1, para os meus colegas, para todos os que estiverem a ler este blog, para os doentes que sofrem e têm no Natal um dia de esperança e um Feliz Natal muito especial para todos aqueles que precisam de trabalhar no Natal, para que nada falte aos outros. Para aqueles que mais do que prendas, dão-se a si próprios para proporcionar um Natal mais feliz a quem deles precisa...

PS - Caros amigos... não se espantem pois se não receberem nenhuma SMS minha!!! Aqui ficam os votos de FELIZ NATAL. É que estamos em crise, e até ao menino Jesus esta chegou. Vejam lá que com uma mãe desempregada e um pai carpinteiro, só o Rendimento Social de Inserção o vale... E isto não está para esbanjar dinheiro!!! Já sabem: abraços a todos e beijinhos a todas...

Para todos vós, FELIZ NATAL (é a 3ª vez que o digo numa única mensagem) e que o Natal e o Novo Ano possam trazer tudo o que desejaram...

Comentários:

Axo que é sp bom comentar posts alusivos a esta epoca!! Cada vez mais consumista... é verdade... E na verdade td a gente dix k n gosta do consumismo, mas td a gente compra a sua prendinha, enfeita a sua arvorezinha e manda a sua smszinha!!
Já nao mando postais de natal...mando e-mail com e-postais..cada vez mais comuns( e menos dispensiosos)...
FELIZ NATAL!!!!  
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quinta-feira, dezembro 23, 2004

Avós

Pois é... Cá o medman também tem avós... Que também têm doenças. Que também têm médico. E que também acham que a culpa é sempre do respectivo...

Segundo uma das minhas avós (que recentemente mudou de médico), o outro (do qual se queixava constantemente) é que era bom!!!
- Fiz muitos exames com ele!!! Aquilo é que era uma categoria... Este agora, nem me manda para a fisioterapia, passa a consulta toda calado... Eu entro e ele nem me diz nada...

E tudo isto completamente resistente à lógica... Que os exames não curam, que não devem estar sempre a ser pedidos, que há muitos sintomas que são da "idade"...
Mas não adianta... O efeito terapêutico dos "exames" é quase tão grande como o "medir as tensões" ou como "uma boa conversa".

Faz-me sempre lembrar a história de quando Deus veio visitar um centro de saúde português e assombrado com a "barafunda" resolveu dar uma ajuda e ir fazer umas "consultas". Ao primeiro doente que vê, um paraplégico diz: levanta-te e anda. E o homem levantou-se e andou. Quando chegou à sala de espera (já sem cadeira de rodas) os outros utentes perguntaram-lhe que tal era o médico novo. Ao que ele respondeu: - A m*rd* do costume. Nem sequer me mediu as tensões!!!

Resta lembrar os Srs Drs para a imperiosidade de comunicar com os doentes. Se pedir os exames e as "fisioterapias" indiscriminadamente e apenas para agradar aos utentes é sem dúvida "má-prática", comunicar, explicar e fazer-se entender (por muito atulhado em trabalho e stress que se esteja) é imperioso para praticar Medicina correctamente...

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Compras de Natal

Ufff...

Já fiz as minhas compras de Natal. Todas, ou melhor, quase todas porque ainda falta a mais importante!!! (sim, a tua, medwoman...).

As saudades que eu já tinha da Leopoldina e do seu Mundo Encantado! Ter que gramar com a Leopoldina todos os anos é dose... Já não chegava ter que gramar todos os anos com o Homem-Aranha, com os "action-mans", o Sozinho em Casa (a trilogia completa) e o Música no Coração.
Também é dose ter que gramar com os "pais-natais" (grafia recomendada pela Edite Estrela, essa diva da língua portuguesa...) e com o cheiro a sovaco dos hipermercados, com as filas para o estacionamento e com os encontrões das quarentonas carregadas de sacos de compras... Há ainda que aturar o Natal dos Hospitais (não uma, mas pelo menos 3 vezes!!!), um qualquer concerto dos 3 tenores e as 1001 variações do Jingle Bells. O que ainda nos salva é a música de natal do Pedro Ribeiro (agora sozinho no RCP).

Mas já está... Abençoada seja a Sta. FNAC!!!

Porque raio é que o Natal não se celebra por quotas... Afinal, se o nascimento do menino parece que aconteceu em Março, porque é que temos todos que celebrar no mesmo dia (que não é o dele...) Se só 10% das pessoas celebrassem o Natal ao mesmo tempo, não havia filas para comprar presentes. E tínhamos pais-natais e duendes durante o ano todo.

Ou então, se o Natal é um dia de paz e união entre os Homens, porque é que não o celebramos em todos os outros dias do ano e reservamos este dia só para dar prendas??? Podia ser chamado de Dia de S. Consumismo, assim para manter o aspecto religioso!!! Ou dia mundial do consumismo, assim como há o dia mundial da criança.
E não havia aquela maçada de ter que ir à missa do galo...

Comentários:

Medwoman ?!? Going for blockbuster ?  
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terça-feira, dezembro 21, 2004

"Hipólitos"

Terça-feira de manhã...

Entra no consultório muito asustada, a perguntar se "posso dar uma palvrinha ao sôtor"?.
Qua a mãe dela, já tinha andado na consulta de gastro no hospital e agora precisava de ir lá outra vez. Tinha telefonado para o hospital e disseram que não podia ir lá directamente. Que tinha que ir ao médico de família pedir um P1 (apesar de os pedidos de consulta ao hospital em questão serem feitos por fax...).
- Mas afinal o que é que se passa? A sua mãe onde está?
Estava na sala de espera... Onde entretanto a foi chamar.
- Ó Sr. doutor, o que se passa é que há 3 anos, fui ao hospital tirar os "hipólitos" que tinha no intestino. E agora preciso de ir lá outra vez.
E passa-me um relatório de colonoscopia para a mão: polipectomia a 2 pólipos no sigmóide.
- Mas precisa de ir à consulta de gastro outra vez porquê?
- Porque eles mandaram-me chamar...
!!! ??? ### ??? &&& ???
- Mas se a mandaram chamar, não precisa de "P1".
- Ó "sôtor"
- interrompe a filha - , eu é que telefonei para lá, porque ela está com os "hipólitos" outra vez...
- Mas porque é que acha isso? Queixa-se de alguma coisa?

- É sôtor... Está outra vez com os mesmos sintomas.
- Pois, mas que sintomas são esses?
- Ó sôtor, não consegue obrar bem...
- D. Lídia (a mãe) afinal o que é que sente? Custa-lhe a obrar?
- Tem marés doutor. Tem marés que sim, tem marés que não. Eu não sei (então quem sabe, pergunto-me eu...). Mas lá do hospital é que me mandaram chamar... A dizer que eu preciso de ir lá com um P1...

Serve esta pequena história (verídica) para ilustrar a falta que faz ter um sistema de saúde integrado e em que os cuidados primários e hospitalares possam, de facto, funcionar como equipa e comunicar entre si...

Mas no final... A culpa é sempre do médico... Que fazer? Fazer a vontade à doente e mandá-la para gastro? Ou fazer a vontade ao estado e não mandar? Ou fazer a vontade ao gastroenterologista e requisitar uma colonoscopia para a privada? Ou fazer a vontade ao médico de família e esbofetear enviar estes utentes para outro médico?
Haja paciência... e saúde!!!

Comentários:

O número (percentual) de licenciados na turquia é superior ao português. Saímos e voltamos a entrar ? Não entrávamos !  

Os turcos só não entram porque o Vaticano não quer!!! Quanto a nós, cada vez mais estamos por favor... E se a mentalidade não evoluir, estamos aqui estamos a tentar aderir à Mercosul!!!  
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segunda-feira, dezembro 20, 2004

Coleccção UMA AVENTURA...


Uma Aventura no Minho... Posted by Hello

Comentários:

desejo cumprido...  
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domingo, dezembro 19, 2004

Só sei que nada sei...

Talvez um dos aforismos mais conhecidos de todo o mundo. Diz-se que Sócrates, na antiga Grécia, terá proferido estas palavras... "Só sei que nada sei".

E nunca elas foram tão consistentes com a realidade actual. Infelizmente, este Sócrates, o de agora, ainda não se apercebeu que, de facto não sabe nada. Ele não tem ideias, ele não tem projectos, ele não tem carisma, ele não tem um plano, ele não tem um sonho, ele não tem um ideal, ele não tem crítica. Vagueia num deserto de ideias e frases feitas: a vitimização, a instabilidade política, estagnação económica, corporativismo, etc., etc., etc. Agora ideias, argumentos sólidos e consistentes, números, inteligência, visão e ideias... é o que se vê (ou melhor, o que se não vê...).

Sócrates (o da Grécia antiga) envenenou-se com cicuta... A outros, temos que lhes aturar o desplante... e temos que fazer de conta que não nos lembramos dos 6 anos de guterrismo, de cinzentismo político, de falta de projectos, de falta de coragem...

Comentários:

FOME e VONTADE DE COMER vão às urnas em fevereiro. E ?  

Sim. Cabe-nos a nós escolher entre cinzento escuro ou conzento claro...  
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Coerência

Santana Lopes condecora FC Porto por conquista da Taça Intercontinental

Ao contrário de outros sportinguistas frustrados, que condecoram a selecção nacional por um 2º lugar num campeonato europeu de futebol (condecoração justa, diga-se), mas que ignoram os títulos de campeão europeu e de campeão do mundo (já para não falar da Taça UEFA) do FCP; PSL, mostra que é um sportinguista (assumido, ao contrário de outros), mas com fair-play.

As condecorações que já não teriam os clubes do regime, se tivessem ganho metado do que ganhou o "clube provinciano"... A inveja é uma coisa muito feia... E o PSL é que é o menino mimado!!!

Ainda Camarate...

Também segundo notícia do JN:

[...] a VIII Comissão concluiu este mês que se tratou de "um acto de sabotagem", pela utilização de explosivos. A VI Comissão já tinha concluído que a queda foi causada "por um engenho explosivo que visou a eliminação física de pessoas", tratando-se, por isso, de "uma acção criminosa".

Mas então perguntam vocês... Se a VI Comissão já tinha concluído a existência de acção criminosa, porque será que o caso não foi julgado?
Será que há peixe-graúdo implicado? Será que alguns dos arautos da democracia em Portugal têm "culpas no cartório"? Porque será que este caso tem andado a ser "mastigado" durante 24 anos? Será que há quem não queira que se descubra a verdade?

Como dizem os nuestros hermanos: "Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay."


O Governo que nada fez...

Para quem quiser a notícia completa. pode vê-la no JN de hoje.

Apesar de disporem de uma maioria que garantia estabilidade no Parlamento, os governos da IX legislatura, de coligação PSD/CDS, tiveram uma vida agitada.A conflitualidade social gerada pelas inúmeras reformas apresentadas pelo Governo de Durão Barroso (2002/2004) reflectiu-se de forma clara nas discussões parlamentares. Pode mesmo afirmar-se que os dois anos e meio de governação da Direita foram mais conflituosos do que os seis anos dos governos minoritários de António Guterres. Tal ocorreu por causa da "vontade reformista" auto-proclamada pelo Governo, que não se fez esperar. Mas não só. Também pelo estilo de Durão Barroso - e seguido pelo Governo. Um estilo mais activo e menos dialogante. O país saíra de seis anos de "diálogo guterrista" e entrava, em Abril de 2002, num "tempo de acção", como lhe chamou o primeiro-ministro.
[...]
A ideia defendida durante a campanha eleitoral de que era necessário "alterar o modelo económico" foi, em parte, concretizada ou, pelo menos, começada. Assim que tomou posse, o Governo apresentou uma lista enorme de propostas legislativas à Assembleia da República que visava diminuir o peso do Estado na Economia.As leis de bases da Segurança Social, da Família e da Saúde (que introduziu o novo regime de gestão hospitalar); o Código de Trabalho, as leis de imigração, da televisão e do desenvolvimento e qualidade do ensino superior; o novo estatuto do aluno; a proposta de lei de estabilidade orçamental; as reformas da acção executiva do processo civil e dos códigos penal e de processo penal; a reforma do sistema político eis algumas das iniciativas.A pressão legislativa foi de tal ordem que os partidos da Oposição queixaram-se ao presidente da Assembleia da República. À medida que as leis foram sendo discutidas e aprovadas no Parlamento - com o voto contra da Oposição - na rua a conflitualidade aumentava.

Para Governo que nada fez, não é nada mau... relembro apenas 1 passagem: "O país saíra de seis anos de "diálogo guterrista" e entrava, em Abril de 2002, num "tempo de acção"...

Mas para alguns isto é o mesmo que nada!!! Principalmente para aqueles que estiveram (e os que apoiaram os que estiveram) 6 anos em diálogo e conseguiram adiar as reformas essenciais para o crescimento do país... ou como diria o ZDQ "Eles falam, falam, falam; mas não fazem nada. E depois fico chateado. É claro que fico chateado"...


Comentários:

É o RAP que faz essa rábula.
Mas de facto, vim agora lá de baixo, disseram-me que sim, chego aqui, parece que não!! Bah!  
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sábado, dezembro 18, 2004

Eureka...

Diz a lenda que terá sido Arquimedes e gritar esta palavra, quando se lembrou de uma forma de calcular a quantidade de ouro existente na coroa do Rei Hiero, enquanto tomava banho. Após esta descoberta, terá corrido nu pela cidade gritando esta palavra: Eureka (descobri).

Mas tudo isto está errado... Não foi Arquimedes quem pronunciou esta palavra. Esta palavra terá sido proferida recentemente por um outro sábio grego: Sócrates...

Então não é que o Sr. Sócrates se lembrou de dizer que: "o Governo do PS não vai olhar com preconceito e deitar fora tudo o que tiver sido feito pelo PSD". Disse ainda que queria aproveitar aquilo que de bom foi feito... para poder melhorar.

Então não é que afinal alguma coisa de bom foi feita nos últimos 2 anos... mesmo ao contrário daquilo que o Partido do Sr. Sócrates disse constantemente ao longo dos últimos 2 anos. Já se está a preparar para manter as políticas do actual governo e ficar com os louros delas... Enfim...

Ainda bem que agora já temos um país estável!!! As saudades que nós já tínhamos de um golpe de estado...

Comentários:

Olha que não... Os governos do PSD são há 2 anos. Mais concrectamente desde Março de 2002.

E o que é certo é que nunca ouvi o PS a elogiar uma única proposta feita pelo governo. Inclusivamente quando estava à vista de todos que a medida era benéfica... Enfim politiquices!

E como disse um dia um dirigente do futebol: O que é verdade hoje, pode não ser verdade amanhã!  
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A Culpa foi do Médico

Iam quatro engenheiros num carro, ali para os lados da Baixa da Banheira, quando de repente o carro avariou.
Diz de pronto o engenheiro mecânico: Pelo barulho que isto fez, de certeza que é avaria na caixa de velocidades.
Ao que respondeu o engenheiro electrotécnico: Olha que não... Olha que não. É bom de ver que o problema está na bateria que descarregou.
O engenheiro químico replica: Eu acho que o problema está na mistura do combustível.
E é então que o engenheiro informático pergunta: Ó pessoal, e que tal se saíssemos todos e voltássemos a entrar?

É nesta altura que se perguntam se eu pirei, e a que propósito me lembrei agora de vir contar anedotas mais velhas que a Sé de Braga (desculpa lá Guilty, não é nada contra ti...) e de graça duvidosa...
Pois é, ontem (dia em que este blog atingiu as 500 visitas) pela primeira vez não apareceu nenhuma mensagem nova... E isso deveu-se ao facto de a minha ligação à Internet ter deixado de funcionar.
E eu, feito parvo, esqueci-me dessa regra básica da informática que é "desligar e voltar a ligar".
E assim foi... Hoje, após ter estado cerca de 10 minutos à espera pelo serviço ao cliente da netcabo, foi atendido por uma menina (bastante simpática, por sinal) que me recomendou que desligasse tudo da corrente e voltasse a ligar...

E não é que funcionou?

Comentários:

Isso quer dizer que, de vez em quando, o único remédio é recorrer às "mezinhas" antigas?  

É... cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém...  
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quarta-feira, dezembro 15, 2004

Final feliz

Era já longa a noite de uma qualquer sexta-feira (ou sábado), quando irrompe pela sala de pequena cirurgia (educadamente) mais um "cliente". A noite estava a ser concorrida mas, por um acaso do destino naquele momento encontrava-me sozinho na sala.
Ele, um homem corpulento, dos seus 30 anos entrara a mancar.
Perguntei-lhe o que se passava, porque estava a mancar e todas as outras perguntas "da praxe". Acidente de moto. Tinha caído e batido com o joelho. Peço-lhe para "baixar as calças" para poder examinar o joelho, o que ele faz de pronto. Sem sinais aparentes de traumatismo.
Peço-lhe para se deitar na marquesa para fazer alguns testes simples e é então que reparo num volume considerável por baixo do casaco de ganga que trazia vestido... o coldre de uma pistola. Os meus olhos, ainda meio incrédulos seguem esse inesperado objecto até encontrarem a coronha de uma arma... Medo, muito medo.
Lá continuo o exame físico que tinha a fazer e aproveitando ter nas mãos o seu pé a realizar o movimento que ele considerava doloroso, acabo por reunir "coragem" suficiente para a pergunta fatal:

- Peço desculpa Sr. Silva, mas... qual é a sua profissão???

Rindo-se diz-me, para meu grande alívio: agente da PSP, reparou na minha arma foi?
Agora com mais alguma segurança, terminei o exame físico e pronunciei:
- Penso que se trata de uma ruptura de ligamentos do joelho, mas terei que o encaminhar para Ortopedia.
E foi o que fiz de imediato...

Cerca de 2 meses depois, estava eu, numa quarta-feira de manhã, na mesma sala de pequena cirurgia quando de novo o vejo entrar. Reconheci-o de imediato e perguntei-lhe como estava o joelho. Vinha de canadianas. Tinha sido operado há um mês. Subiu-me logo o ego... até tinha acertado no diagnóstico!!! Estava ali de novo por causa de um "tumor na nádega".

Calculando que traria a arma debaixo do casaco, resolvi "pregar uma partida" ao aluno do 4º ano que lá estava... Pedi-lhe para fazer o exame físico, a que ele acedeu de pronto e com vontade... Enquanto estava a fazer o exame, segredou-me:
- O Sr. tem uma arma!!!
Não consegui conter uma gargalhada... Afinal não fui o único "apanhado"...

Ah, é verdade... O tumor na nádega era um quisto sebáceo infectado... Levou antibiótico e programou-se a exérese do quisto.
Afinal, não foi mais do que um caso insólito... que ainda hoje me faz sorrir :)

Comentários:

És um praxista...  

Malvado... ;)  
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terça-feira, dezembro 14, 2004

Três... Olhar sobre o Porto


Telhados dO casario do Porto Antigo... Posted by Hello

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Histórias do CS (II)

Era um casal de idosos simpático. Ambos diabéticos, ambos dislipidémicos, ambos hipertensos. Ambos com microalbuminúria. Ela controladita. Ele, cada vez pior e continuava a beber uns canecos (ou assim o demonstravam as análises...).

Aproveitando uma saída do Sr. Y, dizemos à Sra.X:
N - Olhe que o seu marido precisa de deixar de beber, precisa de fazer exercício e precisa de fazer dieta.
X - Pois precisa dôtor. Mas vá-lhe lá dizer isso... Ele a mim não me ouve!!! Estou-lhe sempre a dizer isso: Ó homem, não bebas tanto; Ó homem, olha o castrol...
Entra o Sr. Y com a medição das "atenções": 190/110
N - Isto está bonito, Sr. Y. Vamos ter mesmo que iniciar medicação.
Y - Ó doutor, desde que não seja muito caro... Eu até já há 10 anos que não bebo. Quando recebi a primeira reforma, olhei para aquilo e pensei: Isto é tão pouco... Pus-me a fazer contas e um bagaçinho era tanto, duas vezes por dia dava tanto ao fim de 30 dias dava tanto... Não chegava para tudo. Ou dava o dinheiro à mulher ou bebia o café com o cheirinho... Deixei de beber.
N - Pois é, Sr. Y. O Sr. devia deixar de beber mesmo.
Y - E deixei doutor... Não quer dizer que numa festa, num casamento, às vezes não beba um bocadinho...
X - (interrompendo) É doutor... É só de vez em quando. Ele não bebe muito... E é sempre caseirinho...
N - E olhe que tem de fazer dieta e exercício...
X - Ai isso exercício é com ele... Anda sempre dum lado para o outro. E dieta, doutor, já há 30 anos que fazemos... "Quantal deixamos de comoer"...

Pois é... Idiossincrasias!!! E depois o Sr. Y não ouve ninguém... E ela está-lhe sempre a moer o juízo!!! Olhem se não estivesse...

E lá foram... Felizes, com 1 anti-hipertensor mas sem estatina que o dinheiro não chega para tudo. E com a sua diabetes, com a sua hipertensão e com a sua dislipidemia...

Comentários:

Pois é, andamos sincronizados! ;)

Espero que vocês não se importem que eu vá linkando as vossas deliciosas histórias no meu blog! Eu tomo em atenção os direitos de autor... ;)  

Olá JC... Por acaso já tinha reparado nisso!!! Vi a tua mensagem, no dia em que estes idosos me apareceram no CS...
Quanto aos links, não tens nada que pedir desculpa, até agradecemos a "publicidade"!!!
Em breve verás também aqui as tuas histórias "linkadas".
Abraços e volta sempre... Traz um amigo também!!!  
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domingo, dezembro 12, 2004

Acerca da Inteligência Emocional

A inteligência emocional, conceito primariamente apresentado por Daniel Goleman, não tem uma definição clara e inequívoca, e é ainda alvo de muitos estudos, debates, consensos e divergências.
Contudo, uma coisa parece certa: a inteligência emocional permite-nos gerir as nossas emoções e a nossa relação com o meio e com os "outros". Resumindo, é a "arte da interacção". É o que nos permite adaptar a situações adversas, reagir a "choques emocionais" e superar as adversidades. É também uma característica que torna as pessoas em líderes.
Tudo isto para reatar o post de ontem do Betadine... Por ele se viu a necessidade de os médicos terem um elevado QE (quociente emocional), em a sua opinião ser seguida e respeitada, em escolher a melhor abordagem, para transmitir aos seus "clientes" a ciência que possui.
Mas esta Inteligência Emocional é algo de genético, que alguns possuem intuitivamente, muitas vezes sem se aperceberem - mas que os diferencia da restante população; mas é também ao mesmo tempo algo que pode ser treinado, ensinado e aprendido. Se entre nós ainda é algo de obscuro e pouco aceite, por outras paragens faz já parte dos currículos das escolas médicas.
Assim, os médicos aprendem, treinam e aperfeiçoam os seus conhecimentos e atitudes em resolução de conflitos, retórica, relacionamento interpessoal, comunicação multicultural, empatia, auto-conhecimento, auto-domínio e tantos mais.

A nós, resta-nos ir aprendendo com a experiência, com os erros e com as situações de conflito, tantas vezes vividas (essencialmente nos serviços de urgência).



Parabéns ao Campeão do Mundo de Clubes !!!

Os heróis de Yokohama ou, mais uma vez a admiração do Império do Sol Nascente! ou um exemplo de inteligência emocional... Posted by Hello

Comentários:

Olá Jeman,

Antes de mais parabéns pela tua coragem que, mesmo tendo um grave problema de saúde não desistes perante as adversidades.
Quanto ao "erro médico" do qual terá resultado a tua doença, obviamente que não posso comentar porque não conheço o caso, mas digo-te que se de um erro ou negligência da minha parte resultasse uma pessoa com paralisia cerebral, iria carregar esse "fardo" para o resto da vida.
Se, por um lado, de uma negligência nossa podem resultar eventos fatais, também temos todos que ter consciência que o erro faz parte da vida humana. E que sempre existirão erros médicos - temos é que os diminuir ao mínimo e não ser negligentes. Por outro lado, também temos de estar conscientes de que mesmo sem erros, os resultado muitas vezes não são os que nós desejamos.

Não desistas nunca de lutar...  

thanks  
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sexta-feira, dezembro 10, 2004

Açorda de marisco

Era um velhote simpático. Oitenta e dois anos; uma cara redonda e bonacheirão. A voz, quase não se ouvia de tão sussurrada que era. Tinha 2 olhos pretos, muito pequeninos e encovados. Assustado com tudo o que lhe estava a acontecer.
Tudo tinha começado 2 dias antes. Era Sábado, mas podia ser outro dia qualquer. Para ele, os dias eram todos iguais. Vivia sozinho. Nunca fora casado. Tinha acabado de jantar; de comer o seu jantar; o jantar que ainda sabia fazer - fôra cozinheiro, dizem que dos melhores. A dor no peito começou devagarinho. Mais um aperto do que uma dor. Já era normal. Era a doença que tinha. A SUA doença, diagnosticada por um amigo - médico - que às vezes lá ia jantar. Mas desta vez não passou com os comprimidos. Nem com o primeiro, nem com o segundo. Telefonou ao empregado doméstico, que lá ia ajudar a tomar conta da casa; 112; INEM; hospital. Felizmente não esperou muito.
Puseram-lhe uns fios no peito. Perguntaram o que sentia, como tinha começado, se era costume ter esta dor, se tinha doenças e que medicação tomava. Enquanto isso a dor continuava. E ele estava assustado.
Era a 1ª vez que se via assim, dependente, deitado numa maca ao lado de outras tantas, despojado de toda a privacidade, com pessoas a gritar e a gemer junto a ele - enfim, num SU de um hospital central. Mediram-lhe as tensões. Puseram-lhe uma máscara com oxigénio; um comprimido para mastigar, outro debaixo da língua e uma injecção. Finalmente a dor aliviava. Finalmente algum conforto, agradecido a quem o ajudava.
Disseram-lhe que tinha um enfarte. Que tinha que ficar em observação. E assim ficou até seguir para o serviço - quase 2 dias de angústia. A dor não voltara mas não sabia se ainda viveria muito. Agora estava melhor. Pena que tinha que manter o repouso - estava farto de estar na cama. Felizmente era Primavera e o hospital não estava frio, mas a solidão também dava frio. No fim-de-semana não tinha tido visitas. E a comida. A comida não prestava.
Mas mantinha-se sorridente. Aguardava o dia em que lhe disséssemos que se podia ir embora. Afinal, queria voltar a comer a sua comida. A comida que tinha servido à Rainha D. Amélia, quando ainda era jovem, ou mais tarde à Rainha Isabel II quando visitou Portugal. Já tinha servido presidentes, ministros, até actores de Hollywood. Mas agora estava ali sozinho. Viva da reforma. Às vezes lá apareciam uns amigos. Tomava os medicamentos religiosamente, as pernas é que já não deixavam caminhar muito.
Fez mais uns exames. Cintigrafia de perfusão miocárdica. Felizmente não havia isquemia residual. O ECG tinha regressado ao normal. Cateterismo com doença de 2 vasos - oclusão de 80%. Sem indicação cirúrgica.
Teve alta 1 dia depois do prometido. Agradeceu os cuidados e a companhia (pouca) que lhe fizémos. Foi embora feliz, acompanhado pelo criado, o mais fiel dos amigos. Afinal não era desta que morria.
E deixou uma receita: açorda de marisco...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Chiuuuu... É segredo!

Andávamos nós todos satisfeitos, a pensar que o sigilo médico era um bem precioso, quando vem um qualquer relatório pôr tudo isso em causa. A notícia completa, podem lê-la no Público, segundo o qual:
Segundo o relatório - enviado já ao Presidente da República, ao Parlamento e à tutela - a privacidade dos doentes é violada pela forma como circulam e são arquivados os processos clínicos, muitos ainda em formato de papel, o que facilita o acesso a pessoas não autorizadas ou a sua circulação para o exterior das unidades. A forma como circulam nos hospitais os resultados das análises clínicas dos utentes e a ausência de regras de acesso ao arquivo único dos hospitais são também propícias a violações da privacidade.
Tão ou mais grave é a utilização generalizada, pelos hospitais, dos processos clínicos para investigação científica, sem o devido consentimento dos doentes e sem o controlo da CNPD.

Que estranho!!! Bastava terem perguntado a qualquer médico de qualquer hospital português, para terem chegado a esta conclusão. E sempre se poupava uns trocados gastos no estudo...
Enquanto não se investir a sério, na informatização dos hospitais e no processo clínico electrónico integrado, além de se continuar a gastar dinheiro desnecessário em consultas e exames redundantes, duplicados ou inúteis, não se conseguirá proteger a privacidade dos "nossos" doentes. Quanto à necessidade prática de um processo clínico electrónico unificado, lá iremos dentro de alguns dias. Quanto à privacidade, apenas alguns exemplos:
  • O doente precisa de um Rx. O médico preenche a requisição em papel. Todos os funcionários por quem passa o papel, ficam a saber que o doente precisa de um Rx e qual a situação clínica que motiva o pedido. Tal como os funcionários, qualquer pessoa que passe no corredor e veja o papel fica a saber o mesmo.
  • O doente vai ao TAC. O processo clínico acompanha o doente. Repete-se a história anterior, mas agora com conhecimento completo do processo clínico do doente.

É giro isto do sigilo médico... Voltaremos a isto mais tarde...
Quanto à utilização dos dados do doente para investigação sem o seu consentimento, viola um dos principios básicos da investigação científica em seres humanos: o da participação voluntária. Pode não prejudicar directamente ninguém, mas fica mal!!! As regras existem para ser cumpridas por todos. Vá lá Srs. Drs... Não façam erros destes.


Comentários:

aceitam-se propostas RinoGas, mas acho que te passou ao lado a essência da mensagem... volta sempre  

Ora bem, a questão do sigilo.
Nesta questão do sigilo, entra uma espécie que dá pelo nome de "auxiliar de acção médica". Pois bem. Nos hospitais menos modernos, leia-se: aqueles que não têm sistemas informáticos do século XXI, esta espécie floresce. São uns seres que andam aos pares, alimentam-se na maior parte das vezes da cusquice e muitas vezes deixam processos clínicos confidenciais espalhados pelo chão dos hospitais.... Felizmente, com as novas gerações parece estar a haver uma selecção natural que faz com que as pessoas que desempenham estas funções, felizmente cada vez mais com conhecimentos adequados às mesmas, sejam responsáveis.
Mas bom, para os menos informados....... A culpa é do médico  

Sem qualquer sombra de dúvida que a culpa é do médico. É em nós que é depositada a confiança e a responsabilidade do sigilo. Somos nós que fazemos um juramento de Hipócrates, somos nós (ou devíamos ser) que criamos os protocolos de quem vai buscar processos e em que condições. Fechados ou abertos, informatizados ou em papel. Por auxiliares, administrativos, enfermeiros ou secretários de associações.
'Atacam' os auxiliares de acção médica, mas mesmo com informatização, os administrativos dos serviços continuam a ter acesso a informação previligiada. E bem. É preciso é saber usá-la (ou não).

Um pequeno comentário acerca do uso de dados em investigação. Não sejamos mais papistas que o papa. Uso de informações de doentes para estatísticas não traz mal nenhum. Senão até para pormos o número de patologias vistas no nosso curriculum precisávamos de autorização. Além do mais, as investigações científicas em curso costumam estar sobre o controlo das Comissões de Ética dos Hospitais.  
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Dois... olhar sobre o Porto


Estendais...ou varandas. O Porto junto ao Rio. Posted by Hello

terça-feira, dezembro 07, 2004

Só duas palavras

Comentários:

Ó se foi! :-)  
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segunda-feira, dezembro 06, 2004

Um... olhar sobre o Porto...


Aqui representada uma das mais tradicionais mercearias, bem à moda do Porto... Posted by Hello

domingo, dezembro 05, 2004

Trocados na farmácia...

História passada num hospital distrital. A doente, regressava a uma consulta programada, apresentando alguma dificuldade em controlar os sintomas da sua doença.

Médica - Então D. Maria, anda a tomar os medicamentos como deve ser?
Doente - Ó senhora doutora, direitinho. Só que da última vez na farmácia deram-me daqueles novos, os genéticos e eu passei a tomar dois...

Ainda bem que se permite a alteração da prescrição médica nas farmácias...

Nota: Pessoalmente sou adepto dos medicamentos genéricos desde que assegurada a qualidade e bio-equivalência (como o é actualmente). O problema está na troca indiscriminada que é feita nas farmácias (sabe-se lá com que objectivo - a farmácia é um estabelecimento comercial, que se rege pelas regras de mercado e tem "acordos preferenciais" com determinados laboratórios), sem a devida informação do doente e quebrando a relação terapêutica entre o médico e o doente. Multiplicam-se as histórias de medicação dobrada, alterada e mal-cumprida, devido a este regime, no mínimo "duvidoso" - passa-se o "poder de escolha da marca do medicamento" da mão do médico (que não tem nada a ganhar com a estratégia comercial dos laboratórios), para a mão do farmacêutico (que tem benefí­cios financeiros directos com a venda dos medicamentos).


Comentários:

O problema é que muitas das vezes o medicamento não é substituído na farmácio pelo mais barato, mas por aquele que traz maior benefício comercial às farmácias. É sabido que alguns laboratório "oferecem" um determinado número de embalagens de cada medicamento, de acordo com as vendas desse medicamento (e isso varia de laboratório para laboratório), logo para as farmácias é mais vantajoso directamente vender um em vez do outro. Se me dizes que as farmácias têm o dever ético de vender o medicamento mais barato, têm. Mas também têm o dever ético de não vender medicamentos sujeitos a receita médica sem receita médica e todos sabemos o que acontece. É muito fácil não ter o mais barato em stock... Olha, até te conto uma história. Há cerca de 2 semanas, em conversa com uma DIM de uma marca de genéricos (para o medicamento em questão era a marca mais barata - sim, fui confirmar), a pedir para que quando receitássemos os medicamentos na marca dela trancarmos a receita e pedir ao doente que se na farmácia lhe dissessem que não tinham daquela marca, para ir a outra farmácia. Isto passava-se porque a empresa não "podia competir com a estratégia comercial de outras marcas"... E aqui quem sai a perder?
Repito que o médico não lucra nada directamente com a escolha da marca. Há alguns que lucram, mas isso tem um nome: corrupção e, como tal deve ser punido pela Ordem dos Médicos e pela Justiça.
Tens andado desaparecido...  

Olá outra vez... Já agora vê aqui o que entretanto encontrei... Bem a propósito...
http://medicoexplicamedicinaaintelectuais.blogspot.com
Mensagem de 2ª-feira, 06 de Dezembro.
Ou então vê o Expresso deste Sábado. Abraços.  

Sou proprietária e directora técnica de uma farmácia, filha de um médico e de uma farmacêutica, portanto até estou bem a par do que se passa com os genéricos e as prescrições e a "liberdade de escolha do farmacêutico".
Em relação aos médicos não lucrarem ao prescrever este ou esse medicamento, é falso, porque cá em casa quem sempre trouxe mais "porcarias" (que não entendo como é que a indústria farmacêutica gasta tanto dinheiro em porcarias....) foi o meu pai. Lá na farmácia não somos bombardeados com isso, valha-nos isso.
Há sim alguns DIMs e vendedores que trazem promoções mais ou menos vantajosas para a farmácia. Por exemplo, compram-se 6 azitromicinas do laboratório X e eles oferecem 12... mas no que respeita aos genéricos actualmente eles têm todos o mesmo preço. É é bastante aborrecido para o doente quando o médico tranca a receita, ao prescrever um medicamento genérico e depois não o temos na farmácia... e por estar trancada estamos de mãos atadas para dar outro genérico, que se está no mercado é porque os seus testes de bioequivalência e biodisponibilidade foram aprovados.... e na minha farmácia não se faz uma troca indiscriminada de genérico para genérico. Tentamos, sempre que possível manter o doente com o mesmo medicamento. Sabemos que até os excipientes podem provocar diferentes níveis de ADME em doentes diferentes...  

Outra solução: O medicamento é receitado pelo médico, mas o Estado (que é quem paga a maioria da factura) escolhe qual dos medicamento é que comparticipa. Se o doente (ou o médico) não quiserem o medicamento que o estado "oferece", passa a pagar por inteiro.
Assim, já ninguém se pode queixar de nada (a não ser o doente, do médico que lhe receita o medicamento mais caro - e assim o obriga a receitar o mais barato).
O problema não é de inveja, sobre quem fica com o benefício das negociatas dos laboratórios. O problema é que essas negociatas existam e sejam pagas pelos bolsos de todos... e normalmente sem benefícios para o doente.  
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sábado, dezembro 04, 2004

Ameaçadas de Extinção

Durante séculos perseguida, primeiro como carne fresca a bordo dos navios e mais tarde como matéria-prima para pentes, armações de óculos e outras marroquinarias, aqui fica uma imagem de uma Tartaruga de Pente - Eretmochelys imbricata - num dos seus últimos refúgios em liberdade.

Baía dos Porcos - Fernando Noronha - Brasil Posted by Hello

Comentários:

Estou a ver que a experiência insular foi marcante...  

E de que maneira... :)  

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.  
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sexta-feira, dezembro 03, 2004

A minha 1ª vez

Não. Não é sobre o que estão a pensar. Esta história é acerca do meu primeiro contacto directo com "doentes", ou melhor dizendo, com utentes do SNS.
Corria a Primavera do meu 1º ano na Faculdade. As nossas grandes preocupações, eram a conveniente preparação da 1ª QUEIMA, esse momento memorável de todos os estudantes do Porto, em que pela primeira vez deixam de ser caloiros e passam a ser aceites como "iguais entre iguais".

Apenas alguns dias antes desse tão importante momento, tive a missão de realizar um "inquérito de satisfação" aos utentes de um CS na região do Grande Porto. De relação médico-doente, propriamente dita, não tinha nada. Contudo, o peso da bata-branca, desde cedo aprendi ser importante para estabelecer esta relação. E foi numa dessas belas manhãs de Abril (ainda frias e chuvosas), que depois de ter acordado às 6h00, para poder chegar ao CS antes da abertura (às 08), que senti ter a minha primeira experiência, o meu primeiro contacto real com doentes. Até aí, mais não sabia do que espreitar por um microscópio e "conversar" com as peças inertes do Teatro Anatómico.

Ela era simpática. Dizia que tinha 96 anos, mas não lhe daria mais de 90 :). Pequenina e magrinha. Filha de pescador, viúva de pescador e mãe de pescador. Tinha nascido no início do século. Tinha conhecido reis, presidentes e ditadores. Lembrava-se de tudo claramente. Tinha uma saúde de ferro - HTA, ICC classe II NYHA e DM tipo 2 (longe de mim imaginar o que significava tudo isto... só o compreendi uns tempos mais tarde).
As cerca de 20 perguntas de que era composto o questionário (não demoravam mais do que 5 minutos) deram conversa para quase uma hora. Vieram à baila histórias da juventude, o namorado que a abandonou e foi para o Brasil, o casamento, os filhos, o casamento dos filhos, os netos, o casamento dos netos, os bisnetos, as fotografias dos bisnetos. As queixas dos médicos (os outros, porque o dela era muito bom - graças a Deus). As esperas no CS, o preço dos medicamentos, a reforma que era baixa.
Palavra-puxa-palavra eu que era um doutor-muito-jovem (como ela fazia questão de me chamar - olha o efeito da bata branca) fui-me deixando enlear pela conversa, pela necessidade de carinho e atenção. Ainda hoje, quando não tenho tempo para ouvir e utilizo a "técnica de entrevista" tantas vezes ensinada e aprendida uns anos mais à frente, me lembro daqueles olhos carentes, de quem precisa de ser ouvido.

Entretanto é chamada para a consulta. Levanta-se com genica impressionante para os 96 anos bem-vividos e beija-me na face. Vai-se embora dizendo: "Sr. Doutor, quando vier trabalhar para aqui quero ser sua doente. Vou pedir para trocar de médico"
Também eu gostaria de a rever. Não conhecia ainda o significado de "empatia" esse palavrão atrás do qual os médicos se escondem para defender a sua sanidade mental.

Comentários:

E voltaste a vê-la? :) História tocante. :)  
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quarta-feira, dezembro 01, 2004

Livres de novo

Não. ao contrário do que o título deste post revela, não é sobre o facto de estarmos de novo livres de um governo laranja.

Refere-se isso sim à comemoração do 364º aniversário da Restauração da Independência. Após uns quantos anos (60 segundo rezam as crónicas) de domínio castelhano, um conjunto de nobres toma de assalto o Terreiro do Paço e coloca D. João IV no trono português.

1 Dezembro 1640 - Coroação de D. João IV Posted by Hello
N.d.R. - A coroação de D. João IV só teve lugar no dia 15 de Dezembro de 1640, dando então início à afirmação da independência portuguesa e à re-agregação do império perdido durante o domínio filipino. Pelo simbolismo da data, aqui fica a imagem alusiva ao 1º de Dezembro.