terça-feira, novembro 30, 2004

O Gato de Schrodinger ou o Estranho caso do CENOURA no meio da ponte

Bravo... O Cenoura conseguiu aplicar num governo o princípio do gato do Schrodinger, ou seja, que algo pode ser e não ser ao mesmo tempo. Para Schrodinger, um gato fechado dentro de uma gaiola com uma cápsula de cianeto, só pode ter 2 estados: ou vivo ou morto. Mas esse estado só é descoberto após se abrir a gaiola e, portanto, perturbar as condições do sistema. Enquanto a gaiola estivesse fechada e sem ser observada, o gato estaria meio-vivo, ou meio-morto. Ou seja, adquiria os dois estados em simultâneo. A níverl sub-atómico prova-se que isto é verdade, a grande dúvida residia no que acontece a nível macroscópico, uma vez que se tem por verdade absoluta que algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo.

Ora bem, tal dúvida foi hoje resolvida pelo cenoura. Afinal um governo pode ser bom e mau ao mesmo tempo. A estabilidade pode ser e não ser importante ao mesmo tempo. A prioridade no bem-estar dos portugueses pode ser ou não ser importante ao mesmo tempo. Bem, ao mesmo tempo precisamente não... Ao tempo em que convém.

Veja-se: em Junho, em plena crise política com a promoção de Durão a presidente da comissão e com a oposição completamente à nora, liderada pelos "implicados na Casa Pia", o cenoura achou mais útil manter no governo a maioria parlamentar. Agora, 4 meses passados, com a oposição de "cara lavada" e a preparar os próximos combates eleitorais, toca a dissolver a maioria parlamentar eleita democraticamente e, de uma forma paternalista, dar a oportunidade ao partido das flores, de chegar uma vez mais ao governo; ainda por cima, numa altura em que as borradas feitas pelo executivo dos "ratos que abandoram o navio" estavam (apesar de com asneiras pelo meio), a ser corrigidas. Lá vamos nós outra vez "espremer as tetas à vaca", que de estado de convalescência, passará de novo a estado comatoso.

Borradas ministeriais à parte, um governo neo-nato, com 4 meses de existência, não pode ainda ser avaliado. Muito menos por alguém com interesse directo no assunto, dissolvendo uma assembleia eleita "democraticamente" por todos os portugueses e com a desculpa da "instabilidade" tantas vezes ampliada pela "imparcial" comunicação social que temos, tomada com base em sondagens, ainda hoje publicadas que dão uma possível vitória eleitoral ao partido da oposição.

Em qualquer estado democrático este ultraje seria considerado um escândalo. Mudar de governo de 4 em 4 meses, sem que haja qualquer razão objectiva para tal, faz lembrar uma qualquer república das bananas. Bem ou mal, o "galã da Figueira" deveria ser julgado, como todos os governos até hoje foram, pelo povo e no final do seu mandato (ou como outros fizeram, quando não querem assumir as consequências das borradas que fizeram).

Que o Professor nos salve!!!

Comentários:

Caro Francisco, permite-me discordar da tua opinião.
1- Quem foi eleito nas últimas eleições legislativas não foi o governo, foi a Assembleia da República. O Governo é tradicionalmente convidado a ser formado pelo Presidente da República ao partido que tenha conquistado maior número de deputados nas eleições, e daí sucessivamente a todos os partidos (caso o(s) primeiro(s) o rejeitem). Daí que pode haver um governo minoritário, não sustentado por uma maioria parlamentar. Também daí que, caso o governo caia (e não existindo motivos para dissolução da assembleia da república), o PR deva de novo efectuar o referido pedido (que foi o que fez e bem há 4 meses).

2- Também acho que o "galã da Figueria", a nível político é um "flop", um demagogo. É "muita parra e pouca uva". Contudo, nestes 4 meses de governação, não consigo apontar ao governo nenhum erro grosseiro. Todas as medidas anunciadas são, na minha opinião, pelo menos necessárias (muitas das quais polémicas e impopulares, mas que têm de ser tomadas a bem do futuro do país). Se quiseres, estou "aberto" a sugestões.

3- A função do PR não é decidir se o governo está a governar bem ou mal. Para isso ele tem o poder de vetar os diplomas propostos pelo governo. E tem, em caso extremo, a possibilidade de dissolver a AR - que foi o que fez, numa situação que me parece "pouco extrema". Além do mais, com 4 meses de trabalho é impossível julgar um governo. Tanto mais que as "grandes alterações" estavam previstas para 2005 (além de todos os indicadores económicos apontarem, de facto, para uma retoma da economia).

4- A questão da instabilidade governamental e de o governo não ser apoiado por ninguém é muito mais uma questão artificial criada pela comunicação social, do que algo que seja palpável. Qual é a grande instabilidade de que todos falam? Qual é a crise governativa? É por se demitir 1 ministro que há crise? É por se remodelar 2 ou 3 ministros e um par de secretários de estado? Se assim é, todos os governos são instáveis, e todos os governos pós 25 de Abril deveriam ter sido demitidos. Além de revelar uma falta de coerência e de coragem política muito grandes, esta decisão vem abrir um precedente gravíssimo que é o da interferência do PR nos assuntos do governo! E que possamos estar livres de ser governados pelo Cenoura... Mal por mal antes o Galã da Fiqueira...

5- Mais ridículo do que tudo isto, ainda é a opção do "cenoura" por viabilizar o OE para 2005. Então um governo que não serve para governar o país, serve para fazer o OE do próximo ano? Haja coerência.

6- Continuo à espera que o Professor nos possa salvar!  
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