quarta-feira, fevereiro 08, 2006

O povo e o SU

Hoje tive uma incursão de cerca de hora e meia pela sala de espera, da triagem Mulheres, da urgência do Hospital de S. João, no Porto.
Tinha um pequeno livro e pretendia estudar um pouco, enquanto aguardava que a pessoa que eu acompanhava (a minha namorada) fosse atendida. No entanto as minhas intenções não foram muito bem sucedidas pois não consegui deixar de ouvir os comentários daqueles que, tal como eu, estavam ali à espera.
Notei que a influência da comunicação social sobre as pessoas é imensa. A opinião destas acerca da classe médica é péssima. O funcionamento dos serviços de urgência (SU) e de triagem não são explicados e muito menos compreendidos, por quem a eles recorre. Ouvi um rol de estórias, de noticiários, de (alegada) má prática médica.

Dizia-se que os médicos estão nos corredores de braços cruzados sem nada fazer, que são os únicos que têm autoridade para matar as pessoas e ficarem impunes. Queixas relativas à formação médica também fizeram parte do "menú": emigração de médicos portugueses e excesso de espanhóis nos nossos hospitais; médicos formados por volta dos 20 anos (quando antigamente apenas o eram aos 30) e exercício sem o "canudo".
Por fim o (habitual) tempo de espera e a prioridade no atendimento. Não conseguem entender que há muitos outros a serem atendidos antes deles e que padecem de patologia mais urgente que a sua. Estes problemas também não surgiriam se os pequenos ecrãs que se encontram na sala de espera mostrassem o tempo (real) de espera para cada uma das cores da pré-triagem (em vez de terem o tempo médio em que cada "cor" deve ser atendida. Quando é que um doente "azul" é atendido em 45 minutos quando os médicos não chegam para a quantidade de doentes que recorre ao SU?).

Comentários:

E total e abolutamente portuguesa a mania de opinar e criticar (FEROZMENTE) tudo e todos do lado de fora, sem conhecer a realidade no seu todo...
E profundamente portuguesa a absorcao irracional do sensacionalismo veiculado pelos media (todos, alguns?) e a consequente generalizacao de comportamentos e atitudes de alguns profissionais (nao so os medicos...)
Tem com certeza de aceitar que para um povinho pequeno (nao me atrevo a especificar em que sentidos...mas e obvio) que sonha com o regresso do Encoberto e dificil digerir que a figura do Joao Semana nao e possivel, nem sequer verosimil nos dias que correm!
Devo ainda dizer-lhe que o seu segundo paragrafo, apesar de reflectir o que acabo de expor, tem algum fundo de verdade. Nao vai negar que existam medicos que nao estao na profissao por gosto, que existam medicos negligentes, ou que existam medicos com pouca sensibilidade/psicologia...e infelizmente sao esses que nos ficam na memoria! Da minha pouca experiencia pessoal estes predicados encontram-se mais colados a uma geracao que nao e a sua (pelo "amor a camisola" (louvavel!) deduzo que seja jovem) mas que tambem nao esta a beira da reforma...  

Nao resisto a dar-lhe um exemplo do quanto esta ma imagem da sua classe pode ser geracional (o que ate e bom: esta nas vossas maos, cabecas e coracoes mudar a opiniao das massas)
Sei de um hospital que ate ha pouco nao gozava de muito boa reputacao em termos do modus operandi do pessoal medico, situacao felizmente invertida desde que alguns colegas seus foram para la fazer o internato. E da mesma maneira que ouviu o que ouviu nos corredores do HSJ, ja ouvi estorias bastante laudatorias do desempenho, da dedicacao e sobretudo das qualidades humanas desses (jovens)profissionais.  
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