terça-feira, setembro 18, 2007

O advogado de Salazar

Tendo nascido após o 25 de Abril as únicas coisas que sei de Salazar são:
1. era um monstro, um tirano, ...;
2. foi responsável pela maior pelo maior crescimento económico que o nosso país já viveu;
3. baseava a sua política em 3 pontos: família, escola e religião.

Nunca tendo compreendido os ataques tão cerrados ao seu nome, mesmo após a sua morte, achei por bem ler um artigo publicado no jornal Sol. Nesta, com o mesmo título deste post, é entrevistado Jaime Nogueira Pinto, "apresentador" da biografia do estadista no programa "Os Grandes Portugueses".

Tenho admiração e respeito, principalmente pela forma como Salazar conduziu o país, com grande pragmatismo e grande coerência. Simpatia não, porque não era um
homem que despertasse grandes simpatias.

O regime actual (25 de Abril) foi trazido por um golpe militar tal e qual como foi imposto o Estado Novo (28 de Maio). Assim chamar tirano a Salazar foi uma maneira de legitimizar um poder, imposto, e que também deixou(a) muito a desejar.

Há ainda quem fale em atraso do país. Dirante o Estado Novo crescemos como "pequenos tigres asiáticos", atingindo as taxas de crescimento mais altas de sempre.

A paixão de Salazar era Portugal. Apesar de não ter família próxima, nem apaixonadas, nem amigos e desprendendo-se até das suas irmãs a sua grande preocupação era manter o país unido e independente.

Salazar era muito marcado pela ideia do Império. Como modelos tinha homens como Infante D Henrique e o Rei D João II. Acreditava que, sem as colónias, Portugal era demasiado pequeno para poder manter-se independente e acabaria por dissolver-se na Espanha.

Mais de 30 anos depois da perda das colónias pensa que a anexação se está a consumar? ...penso que não há esse risco. Portugal é o país com as fronteiras mais antigas da Europa. Isso faz com que haja um sentimento nacional muito forte enraizado. Na classe política também não vejo ninguém que defenda a união com Espanha...Agora devo reconhecer que do ponto de vista de perda de centros de decisão isso está a acontecer.

De realce é o desconforto evidenciado pela apresentadora do programa "Os Grandes Portugueses" a quando do anúncio do vencedor. Pior do que esse mal estar é o facto de terem sido produzidos DVD's, com avultados custos, de cada um dos finalistas e nenhum se encontrar à venda (eu confesso que compraria alguns, entre eles o de Aristides de Souza Mendes).

Agora quer se goste, quer não Salazar faz parte da História de Portugal. Acho que os seus actos valem mais do que muitas palavras e devemos promover as suas atitudes positivas e corrigir as negativas (que também as houve e foram bastantes). O que não é correcto é dizer:
"Ele tomoou o poder se assalto!". O que é certo é que o seu sucessor também saiu por assalto.
"Ai com ele não havia liberdade de expressão!". Como era a liberdade de expressão, noutros países, nesse tempo? (eu não sei responder a esta questão!) E agora, mais de 30 anos depois, que liberdade de expressão é que temos? Será que é necessário voltar a falar no Charrua? Já alguém viu a qualidade da nossa comunicação social?


Não!
Não, concordo em dizer mal porque sim. É verdade que Salazar tinha muitos defeitos mas também teve virtudes. Como já disse, vamos aproveitar estas e corrigir os seus defeitos.


Comentários:

Caro Osso,

Quanto à liberdade de expressão da altura em que Salazar posso dizer-lhe o seguinte: era parecida com a das outras ditaduras suas contemporãneas. Nas democracias havia liberdade de expressão.
Quanto ao resto tomo a liberdade de lhe deixar ficar o link para dois textos que escrevi sobre o antigo ditador: http://guardafiscal.blogspot.com/2007/02/salazar-na-memria-um-mau-estadista.html

http://guardafiscal.blogspot.com/2007/02/salazar-na-histria-um-mau-estadista.html

PS: Quanto à posição(e imparcialidade) de Jaime Nogueira Pinto aconselho a leitura deste texto:
http://nonas-nonas.blogspot.com/2007/03/salazar-visto-por-jaime-nogueira-pinto.html  

Max Mortner:
Apesar de não ter lido os links que indicou na totalidade tenho algumas coisas a acrescentar:
1. o facto de haver outras ditaduras na Europa naquela altura revela que o atraso de que se fala não é assim tão significativo;
2. o facto de terem morrido 9000 portugueses na guerra colonial é menos relevante que as mortes americanos no iraque, por ser um combate que ocorre num tempo mais avançado. e a miséria da descolonização também é culpa de Salazar ou dos donos da república, como em tempos Manuel Alegre os denominou...
3. a miséria e fome que reporta, será que não existem hoje em dia também? claro que não serão num estado tão acentuado devido à industrialização (que se deve principalmente ao desenrolar do tempo e não tanto ao crescimento do país).  

Caro Osso,
Mais uma vez sou obrigado a discordar...

1-"o facto de haver outras ditaduras na Europa naquela altura revela que o atraso de que se fala não é assim tão significativo" - Havia aqui ao lado a Espanha, cujo o lider, tendo a noção que não era interno conseguiu, no meio de uma guerra civil e de alguns desejos autonómicos, ter a lucidez de deixar um líder aos espanhois para o substituir quando morresse: esse líder era alguém que historicamente dizia algo aos espanhois e era alguém capaz de manter alguma coesão nacional naquele conjunto de nações a que chamamos Espanha - falo de D.Juan Carlos. Aqui em Portugal o "nosso" Salazar julgou que ia durar para sempre (aos 80 anos quando caiu da cadeira não tinha nomeado sucessor - Marcello era um dos delfins de Salazar mas não foi escolhido pelo velho ditador).
Outras ditaduras Europeias da época?Sei-lhe dizer que a maior parte das ditaduras de direita caíram em 1945 e quanto as comunistas a miséria estava à vista...

2-Para mim o facto de terem morrido 9000 portugueses é relevante e a comparação com o Iraque é um pouco despropositada. Podemos é comparar o caso português ao caso britânico: ao poderoso e populoso império britânico "bastou" a perda de 7000 vidas numa das suas colónias(penso que foi o Quénia) para iniciar uma descolonização pacifica e atempada em África. Digo atempada porque quando nos anos 40 começou a descolonização britânica de África (e a inserção das suas antigas colónias na Commonwealth) ainda havia soldados dispostos a irem para as colónias para assegurarem os processos de descolonização - em Portugal, em 1974 o exército estava derrotado e desanimado e simplesmente não obedeceria a uma ordem que o obrigasse a ficar nas colónias.
Mais uma vez Salazar, com a sua ideia ultrapassada de Império (e logo ele que nem rei era...) mostrou a sua falta de visão para com as colónias (que nem sequer conhecia).
3- É claro que existe hoje em dia fome e miséria. Mas como é óbvio é muito menor do que no Estado Novo.
Quanto à industrialização lembre-se que foi um fenómeno que surgiu no século XVIII. Portugal, para não variar, tentou industrializar-se muito mais tarde e falhou. A culpa, neste caso, não foi de Salazar mas o cooperativismo do Estado Novo só serviu, como é lógico, para piorar a situação.

Cumprimentos,
Mortner  

"cujo o lider, tendo a noção que não era interno conseguiu,"

Queria dizer ETERNO em vez de interno...  

Como inicio o post, nasci após o 25 de Abril e como tal não posso comparar a miséria de então com a actual. Mas convém realçar que, não estando a tentar idolatrar Salazar, as comparações que foram feitas quando se passaram 30 anos da queda do estado novo foram no mínimo ridiculas. Argumentos com: agora quase todos têm telefone; etc... são no mínimo descabidos.

Em termos de comparação com as ditaduras regentes à época convém que as políticas de Salazar não seriam assim tão distintas. É verdade que Franco procurou um sucessor, o filho daquele que considerou um mau governante para o seu país. Mas actualmente em Espanha é o Rei é todo poderoso (acabando por ser uma ditadura sempre que ele quiser... no extremo).
No que às colónias diz respeito temos que ver que Espanha é muitas vezes maior que Portugal e que Inglaterra, apesar de ser uma ilha, está muito mais próxima do centro da Europa do que nós. Além disso os Ingleses sempre estiveram na vanguarda científica e económica. O que lhes permitiu avanços significativos.

Sem as colónias Portugal ficou, quiçá, demasiado pequeno para poder evoluir (o suficiente para se manter na média europeia). Mas este problema das colónia é exclusivo de Salazar, que as tentou manter a todo o custo, mas também dos seus vindouros, que as abandonaram por completo. Deste modo, actualmente são poucos os benefícios que tiramos das nossas ex-colónias, sendo estas dos países mais corruptos do mundo.

O meu propósito com este post era o de resumidamente dizer que:
Salazar, como todos os homens, tinha defiteos mas também virtudes. Não as devemos esquecer devido aos seus defeitos. Nem devemos dizer que determinada coisa foi é mal feita porque Salazar também a fez ou foi ele que a fez.
Considero estas atitudes lamentáveis e anti-desenvolvimento, já que para evoluir é necessário ter em atenção os actos bons e maus praticados no passado...  
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