domingo, dezembro 05, 2004

Trocados na farmácia...

História passada num hospital distrital. A doente, regressava a uma consulta programada, apresentando alguma dificuldade em controlar os sintomas da sua doença.

Médica - Então D. Maria, anda a tomar os medicamentos como deve ser?
Doente - Ó senhora doutora, direitinho. Só que da última vez na farmácia deram-me daqueles novos, os genéticos e eu passei a tomar dois...

Ainda bem que se permite a alteração da prescrição médica nas farmácias...

Nota: Pessoalmente sou adepto dos medicamentos genéricos desde que assegurada a qualidade e bio-equivalência (como o é actualmente). O problema está na troca indiscriminada que é feita nas farmácias (sabe-se lá com que objectivo - a farmácia é um estabelecimento comercial, que se rege pelas regras de mercado e tem "acordos preferenciais" com determinados laboratórios), sem a devida informação do doente e quebrando a relação terapêutica entre o médico e o doente. Multiplicam-se as histórias de medicação dobrada, alterada e mal-cumprida, devido a este regime, no mínimo "duvidoso" - passa-se o "poder de escolha da marca do medicamento" da mão do médico (que não tem nada a ganhar com a estratégia comercial dos laboratórios), para a mão do farmacêutico (que tem benefí­cios financeiros directos com a venda dos medicamentos).


Comentários:

O problema é que muitas das vezes o medicamento não é substituído na farmácio pelo mais barato, mas por aquele que traz maior benefício comercial às farmácias. É sabido que alguns laboratório "oferecem" um determinado número de embalagens de cada medicamento, de acordo com as vendas desse medicamento (e isso varia de laboratório para laboratório), logo para as farmácias é mais vantajoso directamente vender um em vez do outro. Se me dizes que as farmácias têm o dever ético de vender o medicamento mais barato, têm. Mas também têm o dever ético de não vender medicamentos sujeitos a receita médica sem receita médica e todos sabemos o que acontece. É muito fácil não ter o mais barato em stock... Olha, até te conto uma história. Há cerca de 2 semanas, em conversa com uma DIM de uma marca de genéricos (para o medicamento em questão era a marca mais barata - sim, fui confirmar), a pedir para que quando receitássemos os medicamentos na marca dela trancarmos a receita e pedir ao doente que se na farmácia lhe dissessem que não tinham daquela marca, para ir a outra farmácia. Isto passava-se porque a empresa não "podia competir com a estratégia comercial de outras marcas"... E aqui quem sai a perder?
Repito que o médico não lucra nada directamente com a escolha da marca. Há alguns que lucram, mas isso tem um nome: corrupção e, como tal deve ser punido pela Ordem dos Médicos e pela Justiça.
Tens andado desaparecido...  

Olá outra vez... Já agora vê aqui o que entretanto encontrei... Bem a propósito...
http://medicoexplicamedicinaaintelectuais.blogspot.com
Mensagem de 2ª-feira, 06 de Dezembro.
Ou então vê o Expresso deste Sábado. Abraços.  

Sou proprietária e directora técnica de uma farmácia, filha de um médico e de uma farmacêutica, portanto até estou bem a par do que se passa com os genéricos e as prescrições e a "liberdade de escolha do farmacêutico".
Em relação aos médicos não lucrarem ao prescrever este ou esse medicamento, é falso, porque cá em casa quem sempre trouxe mais "porcarias" (que não entendo como é que a indústria farmacêutica gasta tanto dinheiro em porcarias....) foi o meu pai. Lá na farmácia não somos bombardeados com isso, valha-nos isso.
Há sim alguns DIMs e vendedores que trazem promoções mais ou menos vantajosas para a farmácia. Por exemplo, compram-se 6 azitromicinas do laboratório X e eles oferecem 12... mas no que respeita aos genéricos actualmente eles têm todos o mesmo preço. É é bastante aborrecido para o doente quando o médico tranca a receita, ao prescrever um medicamento genérico e depois não o temos na farmácia... e por estar trancada estamos de mãos atadas para dar outro genérico, que se está no mercado é porque os seus testes de bioequivalência e biodisponibilidade foram aprovados.... e na minha farmácia não se faz uma troca indiscriminada de genérico para genérico. Tentamos, sempre que possível manter o doente com o mesmo medicamento. Sabemos que até os excipientes podem provocar diferentes níveis de ADME em doentes diferentes...  

Outra solução: O medicamento é receitado pelo médico, mas o Estado (que é quem paga a maioria da factura) escolhe qual dos medicamento é que comparticipa. Se o doente (ou o médico) não quiserem o medicamento que o estado "oferece", passa a pagar por inteiro.
Assim, já ninguém se pode queixar de nada (a não ser o doente, do médico que lhe receita o medicamento mais caro - e assim o obriga a receitar o mais barato).
O problema não é de inveja, sobre quem fica com o benefício das negociatas dos laboratórios. O problema é que essas negociatas existam e sejam pagas pelos bolsos de todos... e normalmente sem benefícios para o doente.  
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