sábado, março 12, 2005

Quanto ganha um médico?

Depende... em início de carreira, ganha cerca de 850€, durante o internato da especialidade (em que são médicos autónomos e mão-de-obra para todo o serviço), cerca de 1.300€ (num horário de 42 horas semanais), um assitente hospitalar (médico especialista) em regime de 35h por semana, não chega a 2.000€ (valor por excesso).
Ora isto, no melhor dos casos (médico especialista) traduz um "vencimento-hora" de cerca de 15€ (após impostos). 15€/hora??? Quanto ganha um "picheleiro" ou um "electricista"?
E isto, sujeitando-se a trabalhar durante a noite, aos fins-de-semana, em condições degradantes (para os profissionais e especialmente para os doentes). E obviamente que após o final do seu horário (ou em alguns casos "durante" o seu horário), tentam fugir para a medicina privada, para aí sim, poderem ganhar mais uns "trocados"...

Se queremos um Serviço Nacional de Saúde eficaz e profissional, temos que recompensar os profissionais em consonância. Não podemos esperar que os profissionais de saúde tenham um bloco operatório a funcionar durante a tarde, quando em "apenas" uma tarde de trabalho na "privada" conseguem ganhar mais dinheiro do que num mês inteiro no hospital.

E de certeza que não sai mais caro ao estado... Um dia de internamento de um doente num hospital público (sem realizar actos de diagnóstico e sem terapêutica) está avaliado em custos para o estado de cerca de 200€. Quantos "dias de internamento" se poderiam poupar se os hospitais funcionassem " a sério" durante todo o dia?
E nos Centros de Saúde? Os médicos dos Centros de Saúde são obrigados a fazer no mínimo, 4 consultas por hora (o que dá a módica quantia de 3.75€ por consulta), sendo que num horário de 35 horas, fazem cerca de 7 horas de consulta por dia... E todos se queixam das "demoras" em conseguir consultas nos Centros de Saúde. Quantas mais consultas não seriam feitas se os médicos tivessem incentivos para "trabalhar" mais horas?

E isto já para não falar da produtividade... Qual o incentivo para fazer mais consultas? A retribuição ao final do mês, é a mesma para os médicos que "fazem 500 consultas" do que para os que não fazem nenhuma... ou 100.
Sei que muitos médicos são contra o sistema de incentivos de produtividade. Sei que muitos também são contra a gestão privada dos hospitais. Pela minha parte... sou totalmente a favor. Que se recompense quem mais trabalha, que se recompense quem trabalha melhor (nem sempre quantidade é sinónimo de qualidade), e acima de tudo, que se recompense quem é mais competente!
Acredito profundamente que se os profissionais de saúde não precisarem de recorrer à privada para "receber mais uns cobres ao fim do mês", se forem recompensados pelo seu esforço e dedicação, se lhes forem dadas mais competências e autonomia, o sistema funciona melhor para todos... médicos, doentes, estado e sociedade!

Basta ver pelos exemplos (Unidade de Cirurgia Cardio-Torácica dos HUC, novo modelo de gestão dos centros de saúde)... basta haver vontade de deixar aos profissionais o que é dos profissionais e inverter a "proletarização" dos profissionais de saúde. Gosto de pensar que sou (e serei ainda mais no futuro) mais do que um "operário"...

Comentários:

Pois , sei que se matam a estudar para entrar, matam-se a trabalhar para ser os melhores e conseguirem notas na especilaização , mas tb a 12h ja não se apanha nenhum médico num hospital civil... estão todos na privada e pelo menos os que conheço andam de jaguar e similares ...
Compreendo mas não tenho pena ...
O sistema esta mal estruturado , como muitas outras coisas ...
De facto todos queremos ser mais que um mero operário ...
Mas olhe eu estou a caminho do Mestrado e descobri que ganho tanto como a governanta do meu avô...
Foi cá um balde de agua fria  

A questão não é o que se ganha.
Há muitos anos que resolvi preferir "viver pior" económicamente "vivendo melhor" sendo escravo, não do dinheiro, mas da liberdade, do tempo para a família, para mim e para os meus "prazeres".
Áh, sou um defensor da produtividade, eficiência, honestidade, gestão criteriosa, do conhecimento aprofundado, profissionalismo cuidado e, abomino toda e qualquer balda, e não evito "puxar as orelhas" a quem o merecer.
A questão, é o rótulo que se tem: "Dr = grande vencimento". E este rótolo, aliado ao conceito erróneo de deus/diabo (com letra pequena)... = bomba  

concordo plenamente , o problema reside no facto , que a sociedade vive no chamado Life Style , e não em Quality Oriented ...daqui é facil seguir por outros caminhos a futilidade o quer ser mais do se é , viver pela aparencia , trabalho numa area conotada de futil , o marketing ... acho que não precisod e dizer muito mais!
Dentro do marketing adoro a Gestão e Criação de Marcas , acho que não preciso de falar muito mais ,
Esta claro que a prioridade de vida da maior parte dos Portugueses esta canalizada para o consumismo, e o eu tenho mais que tu !!!
Não é a minha maneira de estar até porue quem já vio a morte de frente ... pensa de uma forma simples
Gosto de coisas simples sem complicações .. logo o chefe que me desculpe , mas a empresa não é a minha prioridade de vida , a minha vida é a minha prioridade ( heheehh)  

Viúva negra: é precisamente por isso que às 12 horas (isto é um bocado exagerado, mas pronto), se vêm poucos médicos no hospital... Porque numa tarde de trabalho na privada ganham quase tanto como num mês inteiro no hospital... E os que andam de Jaguar... sai-lhe muito do trabalho... quantos deles não trabalham 80 horas por semana (o dobro do que trabalha qualquer outro funcionário...)

Jocapoga (gostei do novo nome...) - a opção por exclusividade no serviço público, não implica obviamente falta de competência, mas são opções que têm que ser feitas. E se há quem prefira ter menos a nível material, para ter mais liberdade, há quem prefira trabalhar mais tempo, para ter mais "coisas". O que interessa é que o trabalho seja feito com competência e honestidade. Mas sinceramente custa-me um pouco, actualmente ganhar menos do que uma empregada doméstica (3,5€/hora)...  

Eu compreendo isso tudo , mas tb não é assim tão negro e se alguns trabalham 80 horas , é porque querem , ou entraram numa roda viva que ja nao conseguem parar...
Eu mesmo que tenha todo o trabalho feito ao meio dia , nao posso sair porta fora da empresa , era despedida
Qualquer funcionario publico , não pode sair da empresa , os médico sim...  

Continuo a achar curioso que se pense que a qualidade do "sistema" depende dos médicos. Então aqueles exércitos de gente que está nas administrações, coordenações e gestões faz o quê? Quando se avalia a produtividade dos médicos dos Centros de Saúde pela capacidade (habilidade?) de "fazer" consultas de 15 minutos, o que é que isso tem a ver com médicos? Quem avalia estes senhores gestores, quem lhes pede responsabilidades pelo que decidem e pelas consequencias das suas decisões?
Sabiam que os hospitais para onde se transferem doentes urgentes, nalguns sítios deste apís, foram decididos pela autarquia?
Antigamente, na ditadura, atiravam-nos com a PIDE para cima, agora atiram-nos com demagogia...  

Pois , o director de serviço não esta lá , eu sei , não precisa de dizer , sei como funciona , o esquema , mas garanto-lhe que a culpa é sim , do sistema , e de gestores que são uns nabos , por que uma unidade hospitalar, não pode ser gerida da mesma forma que uma empresa , excepto os privados , facturar é a palavra de ordem , acho que deve ser muito dificil , trabalhar sabendo que se tem os custos controlados e justificar todos os meios utilizados para fazer um diagnostico correcto e seguro , na saúde convem pecar pelo excesso ...
Mas muita desta politica advem de excessos de outros tempos , tem de se encontrar o meio termo ...  

Francisco: concordo plenamente em tudo o que disseste (aliás, por isso é que no texto disse que quantidade não é sinónimo de qualidade e que se deve premiar a competência...)

cls: a qualidade do sistema depende até certo ponto dos médicos (satisfação com o atendimento, competência, profissionalismo), mas desejavelmente (na minha opinião, como sempre) deveria depender ainda mais... os médicos deveriam ter maior capacidade de "decidir" as políticas de saúde; raramente vejo alguém a queixar-se dos serviços prestados na medicina privada, em que as instituições são coordenadas por médicos, competentes e bem-pagos

viúva-negra: o médico, teoricamente também não pode sair ao meio-dia... mas há médicos cujo horário é sair ao meio-dia (ou há uma), porque completam o seu horário em trabalho nocturno, por exemplo. Aliás, a experiência que tenho (a nível hospitalar e de centro de saúde) é que a generalidade dos médicos, cumpre mais horas de trabalho do que o seu horário (mas obviamente que existem muitas excepções...)
Tb não acho mal que os médicos queiram trabalhar 80 horas, agora, não os podem acusar de "ser materialmente bem-sucedidos", como se isso fosse algo desonesto. É fruto do seu trabalho, ponto final parágrafo (a não ser para alguma esquerda progressista, que é contra a riqueza individual).
Mas também não acho que a culpa seja só dos gestores. Há muitos médicos "culpados" por omissão, negligência e colaboração com certas políticas economicistas; e muitas vezes são os próprios a não dar o exemplo e a facilitar o desperdício.
Nem acho que na saúde se deva pecar por excesso. Considero isso um erro tão grave como pecar por defeito. Se os efeitos não se notarem directamente no doente em que se pecou por excesso, podem-se reflectir noutro, que até precisava dos recursos mas eles estavam a ser utilizados. Temos que ser racionais e tomar as decisões com base nas melhores evidências que temos.  

Penso que o problema que este país atravessa em relação à falta de médicos nos serviços hospitalares, quando estes SÃO pagos para lá estarem, mas que na realidade NÃO estão, não se prende em nada com o aumento do ordenado aos médicos.
A solução, a meu ver, seria demitir todos os médicos que trabalham no privado. É radical, não é? Eu sei que sim, mas é a única solução para que NÓS, contribuintes, DEIXEMOS DE SER EXPLORADOS PELA CLASSE MÉDICA. Falo por experiência própria, e por todos os cidadãos com medo de falarem, por medo de colocar a sua saúde e um atendimento, mais ou menos, decente, diga-se de passagem, por parte destes profissionais de saúde.
Falta à classe médica um pouco de seriedade e dignidade no seu trabalho, pois não se abandonam postos médicos em horário de serviço, atenção é de serviço (e são muitos dos senhores(as) doutores(as)a fazerem destas habilidades); não se pede caridade, mas sim honestidade para com um povo que trabalha e não vê os seus direitos preservados.

P.S. Sei que os bons médicos, dignos da profissão de lutar pela vida, não ficarão indignados com este texto, dado que é uma revolta que eu já presenciei por alguns bons profissionais na área de medicina; quem ficará indignado, revoltado, enfurecido, etc, etc, serão aqueles, citando a expressão popular, em que "a carapuça assentar que nem uma luva"  

Coitados.  

um picheleiro ou electricista ganha a hora no melhor dos casos 10€ á hora, trabalhando por conta propria e desses 10€ tem de pagar a deslocaçao, o seguro, o irs e irc, tem de pagar também os decontos da segurança social, no fim de contas leva 5€ limpos para casa, trabalha ao sol, a chuva, por vezes 16h por dia, todos os dias, sabados também... e nem sempre tem trabalho, por isso senhores medicos, falem do que sabem, nao daquilo que pensam saber!!!! um electricista a trabalhar por conta de outrem nao ganha mais do que 700@ limpos....muitas vezes com horas extra... e existem mais electricistas desempregados que medicos... pensem bem antes de falar do que os outros ganham, porque nao vejo nenhum medico a fazer a conta a vida para ter dinheiro para comer e sustentar os filhos!!!!!  

Aqui no Brasil o médico ganha cerca de 10 euros a consulta - quando pagam bem, pois a médica é de 5 euros. Note: estou falando de consultório privado, movido à convênios médicos que exploram inescrupulosamente médicos e pacientes. Ainda há o agravente deste pagamento irrisório chegar com 2 a 3 meses de atraso - os convênios nunca pagam de imediato.
No serviço público já é outra conversa: os médicos ganham cerca de 10 euros por hora, mas são obrigados a atender em média - na maioria dos ambulatórios públicos - cerca de 40 pacientes em 4 horas. Ou seja, 10 pacientes por hora.
Some-se à isso o fato de que, na maioria dos serviços, não há recursos disponíveis para tratar ninguém que dependa de procedimentos como exames, cirurgia ou fisioterapia.
Há na verdade relatórios elaborados pelo governo e usados em campanhas eleitorais com números incríveis de produtividade médica na medicina pública, sem no entanto nenhuma explicação de seguimento clínico ou sucesso nos tratamentos propostos.  
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