sábado, outubro 08, 2005
Pela boca morre o peixe
Tem 30 anos bem comidos... Do alto do seu metro e sessenta e cinco, vê o ponteiro da balança (pelo espelho, porque a barriga não o deixa ver os pés) marcar os 150 (sim, kg não lb).
Diz que quase não come e a mãe jura a pés juntos que lhe faz a dieta devida.
Exercício já não pode fazer porque lhe falta o ar. Senta-se de braços abertos porque os "pneus" não os deixam fechar. É assim desde a juventude. Namoradas nunca teve. Abandonou a escola aos 15, farto de ser "o gordo". Veste um fato de treino e uma t-shirt com que tenta esconder a barriga.
Vem à consulta para Cirurgia Bariátrica (a famosa "banda gástrica"). Será talvez a única opção que lhe resta, incapaz que é de seguir um plano alimentar com balanço negativo (ingerir menos do que o que gasta). Mas a avaliação não é nada animadora: tem um ecocardiograma que revela uma fracção de ejecção (relação entre o volume total de sangue no ventrículo esquerdo e o volume de sangue que é "ejectado" em cada batimento cardíaco) de 20%. Isto significa que apenas 20% do sangue que chega ao coração é bombeado de forma eficaz, o que traduz uma insuficiência cardíaca grave. Não tem condições para ser operado... provavelmente não sobreviveria à cirurgia.
E agora, como é que se interrompe o ciclo vicioso? Quanto maior a insuficiência cardíaca, menor a actividade física. Quanto menos actividade mais engorda. Quanto mais engorda, menos funciona o coração. Será que já atingiu o "point of no return"?
Antes de se ir embora, leva um último conselho: Tem de emagrecer. Se acha que come pouco, tem de comer ainda menos. A continuar assim não chega aos 35, e não é possível fazer a cirurgia.
- Pois... - e sorri timidamente, dando a entender que não percebeu a gravidade do seu problema...
Comentários:
«Inicial
Este é um pequeno problema actualmente mas será grande a curto/médio prazo. Portugal é dos países da UE que mais crianças obesas tem. Não faltará muito para não serem discriminados os gordos mas sim os magros (leia-se normais).
Já diz o velho ditado: "é de pequinino que se torce o pepino". Pois é! Também é na infância que as nossas crianças começam a comer mal. Não só comem muito mas também o que não devem (e muito do que não devem). São várias as causas para este problema. A pressão comercial, é uma delas, e a facilidade com que atinge as famílias. Chocolates, bolachas, sumos e coca-colas, leite achocolatado,... tudo é impingido para dentro das nossas casas.
Para alterar o rumo desta história, em que se adivinha um final triste, é necessário tomar medidas. E que medidas é a questão que se impõe? Medidas como as tomadas na Polónia (pelo que li no Público), em que a Coca-Cola retirou os seus refrigerantes das escolas. Controlo da quantidade e qualidade dos anúncios publicitários de alimentos como os chocolates,...(uma percentagem do custo desses anúncio até poderia reverter para o estado, tal e qual como o imposto sobre o tabaco, de modo a ajudar nas despesas dos seus malefícios). A promoção do exercício e do desporto escolar, como forma não só de combater a obesidade mas também de formação de atletas (e até estímulo para o aproveitamento escolar).
Acho que este é um assunto que ainda está virgem, no qual ainda só abordamos as consequências e não a prevenção. Há por isso muito por onde andar dentro do combate à obesidade e a solução não podem ser as bandas gástricas.
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Já diz o velho ditado: "é de pequinino que se torce o pepino". Pois é! Também é na infância que as nossas crianças começam a comer mal. Não só comem muito mas também o que não devem (e muito do que não devem). São várias as causas para este problema. A pressão comercial, é uma delas, e a facilidade com que atinge as famílias. Chocolates, bolachas, sumos e coca-colas, leite achocolatado,... tudo é impingido para dentro das nossas casas.
Para alterar o rumo desta história, em que se adivinha um final triste, é necessário tomar medidas. E que medidas é a questão que se impõe? Medidas como as tomadas na Polónia (pelo que li no Público), em que a Coca-Cola retirou os seus refrigerantes das escolas. Controlo da quantidade e qualidade dos anúncios publicitários de alimentos como os chocolates,...(uma percentagem do custo desses anúncio até poderia reverter para o estado, tal e qual como o imposto sobre o tabaco, de modo a ajudar nas despesas dos seus malefícios). A promoção do exercício e do desporto escolar, como forma não só de combater a obesidade mas também de formação de atletas (e até estímulo para o aproveitamento escolar).
Acho que este é um assunto que ainda está virgem, no qual ainda só abordamos as consequências e não a prevenção. Há por isso muito por onde andar dentro do combate à obesidade e a solução não podem ser as bandas gástricas.
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