domingo, setembro 24, 2006

Desgoverno na saúde!

Sinceramente não consigo perceber o que se passa no ministério da saúde. O financiamento da saúde em Portugal deve ser feito a conta gotas. É a única explicação que encontro para haver notícias tão contraditórias em termos de gastos dos dinheiros destinados para este ministério.
Se por um lado o ministro quer “ganhar” algum dinheiro com cirurgias e internamentos (propostos pelos médicos e não pelos doentes) por outro dá em situações em que seria muito mais fácil de poupar como são os casos da colocação da banda gástrica e da interrupção voluntária da gravidez. É de lembrar que o internamento e muitas das cirurgias dependem de uma patologia que o doente tem, independente do seu comportamento, ao contrário do que ocorre em relação à obesidade ou ao aborto. Nestas duas situações a pessoa ou o casal podem tomar atitudes preventivas como o exercício e o controlo dos alimentos ingeridos, no caso da obesidade, e variadas medidas anticoncepcionais em relação ao aborto que reduzem a fecundação a uma hipótese quase nula.
A saúde, no meu ponto de vista, deveria ser grátis, pelo menos até um certo patamar (igual para todos), para toda a população. Todos pagam impostos, todos devem ter acesso aos cuidados de saúde. Depois, aqueles que querem algo mais do que o “essencial” deveriam, esses sim, pagar.

Comentários:

O probleminha (como dizem os brasileiros) foi a introdução, numa revisão do texto constitucional, da palavrinha "tendencialmente".
A partir daí cabe tudo. Vai haver um desfile de interpretações dos mais variados advogados, causidicos, juristas, constitucionalistas, etc. - o que se quiser.
No fim da linha está, pura e simplesmente, a destruição do SNS.
Os custos desta operação serão suportados pelos bancos e seguradoras, cada vez mais interessados no "negócio da Saúde".
É só estar atento para perceber. Todavia o facto de percebermos a sinistra estratégia não evitará a catastrofe social que representará, num País com as nossas características económico-sociais, a destruição do SNS.  

Concordo completamente...
e por falar em despesismo, sugiro a visita a um blog que habitualmente visito: http://tabemexisto.blogspot.com/  

Camarada Osso:

O raciocinio parece-me um pouco enviesado, não?
E as doenças cardiovasculares? Sabemos hoje que muitos dos factores de risco CV surgem ou são potenciados pelo estilo de vida e portanto dependentes da vontade do doente/utente.Assim pela "lógica do osso" um individuo obeso e sedentário e que sofre um enfarte deverá pagar do seu bolso a PCI e demais custos inerentes ao seu tratamento!
E o doente com carcinoma epidermóide do pulmão e que é fumador? Pois meu amigo terá que pagar o tratamento na totalidade (cirurgia + QT + RT...) do seu bolso à semelhança do obeso mórbido. Ou não fosse tudo dependente da vontade do doente!

Não faz muito sentido, pois não?

Por isso caro Osso, reflicta um pouco antes de dar sentenças que não lembram o diabo!  

Visto nesta perspectiva o texto encaminha-se para as concepções da "eutanásia passiva".
Não é que ache que a discussão pública sobre eutanásia seja um tabu. Esta, como apontam situações com cada vez maior mediatismo, não tardará a estar na praça pública. Penso, contudo, que as estruturas médicas, nomeadamente a OM, importantissimas para clarificar esta dramática situação, não devem ser o motor desta iniciativa. Deixar isso à sociedade civil. Essencial que decorra fora da tutela religiosa, cheia de pre-conceitos e dogmas.

Na verdade, "o que faz falta" para perceber a questão levantada por este "post" é a educação sanitária da população.
Quando atingirmos um nível de educação sanitária suficiente, a população terá capacidade para co-responsabilizar-se pela sua saúde.

Até lá a culpa é do médico...  

Aquilo que considero injusto é os impostos serem pagos e não haver direitos para os contribuintes.

Então para quê pagar impostos?
Porque não vende o estado directamente serviços (como a saúde)?

Se os impostos são pagos então tem de haver direitos! E desses a saúde será por ventura o maior de todos. Há também que gerir bem todos os recursos. Essa gestão deve passar por uma redução dos custos e não por uma aumento das receitas, segundo o meu ponto de vista. Deste modo considero que a colocação de bandas gástricas (comparticipadas em 100% pelo estado, inclusivé em clínicas privadas de modo a diminuir a lista de espera) não faz grande sentido. Se a "saúde" está na banca rota penso que se deve cortar (não radicalmente) racionalmente em cirurgias como esta para não ser necessário propôr (que aqueles que pagam os seus impostos tenham que pagar) taxas moderadoras para internamentos e cirurgias.
Agora, aqueles que mostrassem ter capacidade de evoluir favoravelmente, com cirurgias em que o resultado e a sua necessidade depende grandemente do estilo de vida, também não deveriam ter grandes encargos. Mas é claro que tudo isto necessita de um pensamento mais profundo e mais conhecimento do que simplesmente propor uma introdução de taxas moderadoras. A ideia que proponho é a criação de critérios (rigorosos) para as cirurgias, à semelhança do que acontece em Inglaterra com a medicina de reprodução. Também é necessário uma certa cultura e educação (o que em Portugal não abunda) para perceber que a medicina não faz milagres e que é necessária força de vontade para atingir resultados.  

Pegando só num pequeno pormenor:

a obesidade mórbida é uma doença ou um mero devaneio?

Logo, quando tratamos com humanos as "lógicas" complicam-se...  

Camarada Osso:

Lá está você a insistir com a obesidade mórbida. Tem que se convecer que é uma doença e não apenas um capricho. Sabe qual a mortalidade associada à obesidade mórbida? E a mortalidade da insuficiência venosa crónica? Não o vejo a protestar contra a comparticipação das cirurgias de varizes!!  

Partilho a 100%a sua posição em relação à dita "justiça" de financiamento da saúde em Portugal mas relativamente à referência à interrupção voluntária da gravidez tenho uma certa dúvida.

Consultando o site da hiperligação, os casos previstos para interrupção voluntária da gravidez são os previstos na legislação, casos como violações, malformações, etc (se não estou em erro), ou seja, casos que não dependentes da utilização correcta de medidas anticoncepcionais. Ainda neste ponto, nestas intervenções a velocidade da intervenção é importante pois, embora noutros casos tlv semanas ou meses não façam a diferença, aqui, o tempo de gestação é determinante por um enorme leque de razões, começando pela segurança da mãe.Assim, tlv neste ponto os fundos sejam correctamente aplicados.

Exceptuando este exemplo, é um post muito bem colocado e que espero que consiga alertar mais gente para o nem sempre racional ou claro serviço do ministério da saúde.

P.C., leitora assídua ;)  

ola a todos!
esta foi a primeira vez k visitei este blog e gostaria apenas de fazer um pequeno comentario a isto dos internamentos serem pagos a 5€ por dia (até aos 14 dias):

é pena k este dinheiro nao sirva para pagar aos enfermeiros licenciados que ainda ganham como bacharéis....

uma continuaçao duma boa conversa :)

Ass: um enfermeiro descontente!  

E o que é "essencial" nos cuidados de saúde? E o que é o "mais"?

Este esculápio não tem nada a ver com o outro. Trata-se de mera coincidência.  
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