quarta-feira, janeiro 19, 2005
O Dia em que "passei" uma doente à frente
Era uma quarta-feira à noite, como tantas outras. No "cesto" das fichas da urgência, encontravam-se cerca de 20 fichas, que correspondiam a outros tantos doentes. A maioria dos quais classificados pela "triagem de Manchester" como de atendimento prioritário (menos 30 min). Ora, dada a falta de "espaço" no SU e a falta de recursos humanos, os 30 minutos de espera iriam certamente ser transformados em 3 ou 4 horas.
Quando chegou a hora de "ver outra ficha", resolvi consultar os "motivos" da triagem de Manchester para aquela classificação, visto que entre os doente, poderia haver algum que necessitasse de atendimento mais rápido. É então que, a meio do monte de fichas, encontro uma jovem de 30 anos, descrita com: "hemiparésia esquerda" (ou seja, diminuição de força nos membros esquerdos). Foi resolvido chamá-la de imediato, uma vez que, caso se tratasse de um AVC (um dos diagnósticos possíveis) e dada a idade da doente, poderia ser tentada uma terapêutica "eficaz", desde que fosse iniciada muito em breve. Uma "trombose" é sempre dramática, mas numa pessoa jovem, que terá que conviver com ela durante 40 anos ou mais, torna-se ainda mais insuportável. Por isso, tinha já o "esquema mental" todo preparado para "diagnosticar" o possível AVC e propôr a doente para trombólise (terapêutica que pode "reverter" a trombose).
Qual não é o meu espanto quando chamo a doente - não sem antes ser insultado por metade da sala de espera, que diziam "ela ainda agora chegou" - ela se dirige a mim, a mancar ligeiramente, mas a andar sem aparente hemiparésia. Sento-a numa maca e começo a "tirar a história": desde manhã, quando acordou que tinha uma dor no joelho; que pôs uma pomada e melhorou, tendo mesmo ido trabalhar. Quando chegou do trabalho, sentou-se e adormeceu, sendo que quando acordou a dor no joelho estava pior e custava-lhe andar... porque lhe doía o joelho! Afinal a hemiparésia e o possível AVC (felizmente para ela) não passavam de uma "dor no joelho".
Foi encaminhada para o ortopedista e chamei a doente seguinte... pela ordem de chegada!
Quando chegou a hora de "ver outra ficha", resolvi consultar os "motivos" da triagem de Manchester para aquela classificação, visto que entre os doente, poderia haver algum que necessitasse de atendimento mais rápido. É então que, a meio do monte de fichas, encontro uma jovem de 30 anos, descrita com: "hemiparésia esquerda" (ou seja, diminuição de força nos membros esquerdos). Foi resolvido chamá-la de imediato, uma vez que, caso se tratasse de um AVC (um dos diagnósticos possíveis) e dada a idade da doente, poderia ser tentada uma terapêutica "eficaz", desde que fosse iniciada muito em breve. Uma "trombose" é sempre dramática, mas numa pessoa jovem, que terá que conviver com ela durante 40 anos ou mais, torna-se ainda mais insuportável. Por isso, tinha já o "esquema mental" todo preparado para "diagnosticar" o possível AVC e propôr a doente para trombólise (terapêutica que pode "reverter" a trombose).
Qual não é o meu espanto quando chamo a doente - não sem antes ser insultado por metade da sala de espera, que diziam "ela ainda agora chegou" - ela se dirige a mim, a mancar ligeiramente, mas a andar sem aparente hemiparésia. Sento-a numa maca e começo a "tirar a história": desde manhã, quando acordou que tinha uma dor no joelho; que pôs uma pomada e melhorou, tendo mesmo ido trabalhar. Quando chegou do trabalho, sentou-se e adormeceu, sendo que quando acordou a dor no joelho estava pior e custava-lhe andar... porque lhe doía o joelho! Afinal a hemiparésia e o possível AVC (felizmente para ela) não passavam de uma "dor no joelho".
Foi encaminhada para o ortopedista e chamei a doente seguinte... pela ordem de chegada!
Comentários:
«Inicial
Caros colegas médicos e bloggers:
Parabéns pelo vosso blog! Está excelente!!!
Em relação ao vosso post... também tenho visto algumas pequenas barbaridades na triagem (nomeadamente doentes enviados para os laranjas com patologias que não são laranja de maneira nenhuma)... No entanto, assim, nunca vi nenhuma!!! ;)
Um abraço
Enviar um comentário
Parabéns pelo vosso blog! Está excelente!!!
Em relação ao vosso post... também tenho visto algumas pequenas barbaridades na triagem (nomeadamente doentes enviados para os laranjas com patologias que não são laranja de maneira nenhuma)... No entanto, assim, nunca vi nenhuma!!! ;)
Um abraço
«Inicial