segunda-feira, abril 25, 2005

Recordes III - A oligofrenia tem limites

A oligofrenia tem limites.
Nos 3 meses que tenho estado no Serviço de Medicina de Lamego é o terceiro internamento que conheço à D. Lurdes. Senhora com uma demencia senil em estado avançado atirada para uma cama há alguns anos, algaliada, alimentada por sonda naso-gástrica, completamente dependente de terceiros, neste caso do filho. O título nada tem a ver com a senhora, mas infelizmente com o filho. O QE (quociente emocional) que demonstra em querer tratar da mãe em casa, falta-lhe em QI para o conseguir fazer. Após sucessivos internamentos da Sra. por ITUs (Infecção do Tracto Urinário) altas e baixas, infecção respiratória, infecção das escaras, etc, tenta-se sempre explicar ao rapaz que a mãe precisa de cuidados continuados e que estaria melhor num lar. NÃO e NÃO e NÃO e só confia num qualquer ‘especialista’ de Braga onde a leva de 4 em 4 meses para controlar o coração. É preciso referir que o dito é suficientemente oligofrénico para ser necessário a GNR ir à frente ‘abrir caminho’ às enfermeiras do centro de saúde que lhe vão dia sim dia não fazer pensos, pois as recebia de caçadeira.
Este internamento complicou. Entrou com uma pielonefrite, que curámos, mas as escaras infectaram para além do controlável. Necrose avançada nos dois pés, típica da sua DM2 mal (muito mal) controlada. Proposta para cirurgia para amputação dos dois membros. Entretanto a sra já estava com cateter central para administração de fármacos e alimentação parentérica de apoio à alimentação pela sonda. Começa a insistir que quer levar a mãe ao especialista de Braga. Por muito que lhe explicássemos a verdadeira situação, o perigo de uma sépsis, a inviabilidade dos membros inferiores, o homem só se preocupava que a mãe andava a urinar pouco (olhava para o saco da algália), que o coração não batia certo (tinha uma arritmia desde a entrada). ‘Ela está melhor, não está?’ ‘Quando a posso levar para casa?’. Negação ou falta de capacidade de compreensão? Até que começa a ameaçar as enfermeiras que se a mãe morre, faz como aquele de Faro (que baleou o médico da mãe). E toda a gente acreditou. Não foi com estranheza o dia em que chegou um quanto transtornado e que queria levar a mãe para casa, naquele momento. Foi difícil controlar a situação até que se pudesse sequer retirar o cateter central e escrever uma carta para a equipe de enfermagem do centro de saúde. Terá ido ao ‘especialista de Braga? Que terá este feito?

Comentários:

E, nestes casos não se pode retirar ao filho a possibilidade de decidir pela mãe?  

exacto...o filho pode decidir pela mãe?
sei que tem demencia senil, mas o hospital não pode dizer que o filho tb tem visto ele tratar assim a mãe?
ou estou a ser radical?  

Existem formas de retirar a reponsabilidade legal de - p expl- uns pais em relação a um filho perante evidência clara que a sua decisão vai provocar agravamento da situação clínica da criança.
Presumo que nesta situação isso também seja possível.  
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