segunda-feira, dezembro 27, 2004
Acerca de Acreditar
Várias vezes na nossa prática clínica somos confrontados com a necessidade de acreditar na palavra dos doentes; porque muitas coisas, só mesmo os doentes sabem... Se dói, se não dói; se tem falta de ar, se não tem; se toma os medicamentos ou não toma...
Regra geral, o doente não mente... Regra geral, não regra absoluta... Há pelo menos 2 situações típicas onde o doente tem tendência para mentir... Na ingestão alcoólica e na alimentação...
Qual de nós nunca viu alguém que nega a pés juntos a ingestão de bebidas alcoólicas, mas contudo tem marcadores bioquímicos e físicos de abuso crónico de álcool (não vou revelar publicamente que marcadores são esses... porque aí reside o segredo do acto médico:)); ou por outro lado, doentes com obesidade mórbida que asseguram "por tudo o que tenho de mais sagrado" que cumprem a dieta religiosamente.
Há que realçar um facto: o papel do médico. O médico não é juíz, nem carrasco. Não faz juízos de valor. Não deve criticar... O médico deve aconselhar (enfaticamente) e alertar para as possíveis consequências, mas a época em que o médico decidia pelo doente já passou, embora a alguns "utentes" isso custe a encaixar: "o sr. doutor é que sabe..."; "se estivesse no meu lugar o que fazia?" ou "se o doutor manda, eu faço..."
Mas, hoje em dia, a decisão final (quer seja da terapêutica, quer seja de estilos de vida) cabe ao "doente"... por muito que isso custe a todos!
Curiosamente, noutros assuntos, tantas vezes considerados "tabu", existe uma maior "abertura" e "confiança" entre o médico e os seus doentes. A minha curta experiência, tem-me mostrado confiança total no médico, e "sinceridade" dos doentes em assuntos como toxicodependência, seropositividade, abortamento voluntário e hábitos sexuais.
Quanto ao tema dos hábitos alimentares, ainda hoje um doente obeso, diabético e dislipidémico, após recomendado que tinha que fazer dieta e exercício retrucou com esta pérola: "O doutor nem acredita no que eu como!!! Se comer menos desapareço!!!" Ai não acredito não... Porque ninguém engorda com ar e vento...
De qualquer forma ainda existem por vezes, sinceridades que nos espantam: Estava uma colega minha, na altura no 3º ano da faculdade, a aprender a fazer histórias clínicas. Teve, em determinado dia, que colher a história de um senhor internado com uma doença hepática crónica. Eis chegada ao ponto fundamental da história do consumo alcóolico (não, não vou contar aquela da colega que perguntou: "Quantas gramas de álcool bebe por dia?). A pergunta saiu, séria e confiante: "Quantos copos de vinho bebe por dia?"
A resposta... Ninguém estava à espera: "Ó menina... é melhor começar a contar em garrafões..."
Regra geral, o doente não mente... Regra geral, não regra absoluta... Há pelo menos 2 situações típicas onde o doente tem tendência para mentir... Na ingestão alcoólica e na alimentação...
Qual de nós nunca viu alguém que nega a pés juntos a ingestão de bebidas alcoólicas, mas contudo tem marcadores bioquímicos e físicos de abuso crónico de álcool (não vou revelar publicamente que marcadores são esses... porque aí reside o segredo do acto médico:)); ou por outro lado, doentes com obesidade mórbida que asseguram "por tudo o que tenho de mais sagrado" que cumprem a dieta religiosamente.
Há que realçar um facto: o papel do médico. O médico não é juíz, nem carrasco. Não faz juízos de valor. Não deve criticar... O médico deve aconselhar (enfaticamente) e alertar para as possíveis consequências, mas a época em que o médico decidia pelo doente já passou, embora a alguns "utentes" isso custe a encaixar: "o sr. doutor é que sabe..."; "se estivesse no meu lugar o que fazia?" ou "se o doutor manda, eu faço..."
Mas, hoje em dia, a decisão final (quer seja da terapêutica, quer seja de estilos de vida) cabe ao "doente"... por muito que isso custe a todos!
Curiosamente, noutros assuntos, tantas vezes considerados "tabu", existe uma maior "abertura" e "confiança" entre o médico e os seus doentes. A minha curta experiência, tem-me mostrado confiança total no médico, e "sinceridade" dos doentes em assuntos como toxicodependência, seropositividade, abortamento voluntário e hábitos sexuais.
Quanto ao tema dos hábitos alimentares, ainda hoje um doente obeso, diabético e dislipidémico, após recomendado que tinha que fazer dieta e exercício retrucou com esta pérola: "O doutor nem acredita no que eu como!!! Se comer menos desapareço!!!" Ai não acredito não... Porque ninguém engorda com ar e vento...
De qualquer forma ainda existem por vezes, sinceridades que nos espantam: Estava uma colega minha, na altura no 3º ano da faculdade, a aprender a fazer histórias clínicas. Teve, em determinado dia, que colher a história de um senhor internado com uma doença hepática crónica. Eis chegada ao ponto fundamental da história do consumo alcóolico (não, não vou contar aquela da colega que perguntou: "Quantas gramas de álcool bebe por dia?). A pergunta saiu, séria e confiante: "Quantos copos de vinho bebe por dia?"
A resposta... Ninguém estava à espera: "Ó menina... é melhor começar a contar em garrafões..."