terça-feira, outubro 11, 2005
Onde andam os doentes? Que médicos vamos ter? Vale a pena Sr. ministro?
No início da minha 4ª, e penúltima, semana do bloco de pediatria queria deixar a história clínica e exame físico que tenho que entregar para poder realizar o exame prontos. Delineei o seguinte plano (3ª feira, já que não tinha qualquer aula, teórica ou pratica):
- Manhã: junto os dados necessários e se ainda houver tempo faço o exame físico.
- Tarde: em casa reúno os dados recolhidos durante a manhã, vejo o que falta e na 4ª acabou (ou faço) o exame físico e limo as arestas da história.
3ª feira.
Saio, do metro, na estação mais próxima, olho para o relógio e são 10:15 (hora ideal, até às 11h as enfermeiras estão a tratar dos pequenitos e a visita foi às 8:30). Quando acabo de subir as escadas um enorme aguaceiro abate-se sobre a minha cabeça (e corpo). Não há que desanimar! Chegado ao hospital vou buscar a bata e sigo para as enfermarias. Na 1ª sala estavam duas mães a dormir, com um ar exausto. Na 2ª havia duas crianças nas camas e as respectivas mães ocupadas (ora a falar com duas alunas de enfermagem ora com um aluno em estágio - mais velho, portanto com prioridade). Nos quartos de isolamento não entrei, porque nem sei se é suposto entrarmos lá. Para além disso a azáfama no corredor deveria ser muita tal a quantidade de batas brancas que por ali circulavam. Passo para a outra enfermaria, onde havia algumas crianças a brincar, outras a fazer tratamento e ainda quem dormisse um pouco. Os pais muito ocupados com enfermeiros, médicos ou alunos.
Não resisto e viro costas! Vou tomar um café e dar dois dedos de conversa.
Volto mais tarde (seriam umas 12h) e vejo uma criança que não tinha visto na primeira passagem. Abordo os pais do Rui. (mas este não era, realmente, o meu dia de sorte!) O pai tinha acabado de chegar, do trabalho. Vinha buscar a mãe e levá-la a casa, para umas horas de repouso (que bem precisava). Pede-me desculpa e pergunta se não pode ficar para o dia seguinte. O que fazer???
Vim embora resignado e com a esperança de na 4ª feira conseguir fazer a história. Quer dizer na 4ª vou preparado para ficar durante a tarde ou até quando for preciso.
Só me lembro que há pouco tempo li neste blog que a maior parte das vagas para o internato complementar se encontram na região de Lisboa e vele do Tejo. Porque não Sr. Ministro abrir mais vagas só nas faculdades dessa região? Aí sim, deve haver doentes para todos (médicos, enfermeiros e alunos de medicina e enfermagem). As contas são fáceis de fazer. Actualmente o número de alunos na minha faculdade deve rondar os 1500. No meu ano somos cerca de 200. 200 com mais 200 acima e outros tantos abaixo somos 600 em anos clínicos (aos quais ainda é necessário juntar os alunos de semiótica clínica). Quantos doentes terá o hospital? Quantos desses estão num estado não colaborante (voluntário ou involuntário)? Quem é que lhe vai prestar assistência médica quando necessitar Sr. Ministro? Talvez sejam estes futuros médicos que já não têm um internato para “treinar” e que também não têm doentes para ver (ou será que o Sr. gostaria de repetir a mesma história 3 e 4 vezes ao dia?).
E que tal ter feito menos um ou 2 estádios pro Euro2004 e ter gasto esse dinheiro a construir mais um ou 2 hospitais nas zonas periféricas as grandes cidades?
Se calhar ia ajudar tudo e todos...Alunos de Medicinca incluidos! ;)
Gostei do blog, vou voltar...
Quatro! Sim! Quatro semanas para fazer uma história?! Juro que não entendo! E ainda se queixa de falta de doentes?!
Sugestões:
Chegue mais cedo!
Procure de forma diligente! As histórias não lhe vão cair no colo.
E o que é isso de história num dia e exame físico no outro? Já agora, o plano terapêutico fica para a semana, não?
Ainda não sou licenciado. Não tive a hipótese de fazer histórias e exames físicos suficientes para os conseguir aviar como os internos e a maioria dos médicos fazem. Para além disso ainda há aulas teóricas para assistir, práticas para (esperar pelo assitente e só depois)ter, livros para ler e apontamentos e doses terapêuticas para decorar. A maior parte destas coisas vão-se ganhando com a prática e não nascem com as pessoas.
Por incrível que pareça ainda há pessoas que conseguem ver que quem recorre ao hospital são seres humanos e não máquinas. Como ser humanos que são também não suportam ser requisitados por muito tempo e muitas vezes.
Quanto ao chegar mais cedo só se fosse acordar a criança (o que do seu ponto de vista deve ser muito humano) porque como refiro às 8:30 passa a visita médica e depois há a limpeza das salas e o trabalhos de enfermeiros e médicos. A hora em que se deveria estar mais à vontade é por volta das 11h.
Espero que também não seja um dia inquirida por uma dúzia de jovens alunos ou que essa mesma dúzia lhe faça uma manobra médica que considere desagradável (como o Sr Ministro merece).
Sabe...eu também já fui estudante de Medicina. Pela descrição suponho que esteja no 5º ano do curso. Quando por ele passei (na verdade a Pediatria II era no 6º ano) não era apenas uma história de pediatria que tinha que fazer mas sim 3 histórias (com exame físico incluído, é claro!).
Nas restantes cadeiras clínicas também tive o meu "quinhão" de histórias clínicas (fosse individualmente fosse com o resto da turma) e em circunstância alguma o(s) doente(s) ou familiares foram forçados a colaborar. A situação foi sempre explicada antes de qualquer tipo de abordagem. Devo até dizer-lhe que a grande maioria até fazia questão de falar com os alunos. Aqueles que, por alguma razão, preferiam não ser incomodados ninguém os aborrecia. É claro que se não perguntarmos não sabemos...
Felizmente não são internados muitos doentes diariamente mas creio que o serviço não deve estar vazio, pois não?
Quanto ao chegar mais cedo penso que percebeu a mensagem e não devem ser precisas mais justificações.
Doses terapêuticas...hum...livros para ler...pois!
Talvez das 9h00 às 10h15... no metro!
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