domingo, setembro 03, 2006

Combate ao desperdício

O último ano do curso de Medicina reflecte o desperdício de recursos que se observa por todo o país.

Durante esse período, que vai de Setembro até ao final de Julho (do ano seguinte), além das passagens pelos serviços de Medicina, Cirurgia, Pediatria, Psiquiatria e Medicina Comunitária, existem também rotações opcionais (de 15 dias cada). Do meu ponto de vista estas fazem todo o sentido. Assim o aluno pode investir mais dentro de uma determinada área que lhe seja mais querida e promover uma valorização pessoal e curricular (nessa mesma área).

Olhando só com estes dados ficarão todos a pensar: onde é que está o desperdício?
Pois é que ainda falta acrescentar um pequeno dado, o exame de acesso à especialidade. Este realiza-se em Dezembro e geralmente o estudo inicia-se um ano antes. Assim, em vez de termos alunos dedicados a realizar um ano profissionalizante, vamos ter alunos a serem úteis aos serviços (se os deixarem) durante cerca de 3 meses e nos restantes 8 (Dezembro a Julho) a “ficarem em casa” para estudar o monstruoso Harrison.

Além disso, qual é o objectivo das disciplinas opcionais? Em primeiro, 15 dias nem dão para ambientar ao serviço, muito menos para realizar uma investigação por mais pequena que ela seja. Depois, de que vale apostar na valorização pessoal e curricular se a selecção para a especialidade é realizada através de um mero exame em que se avalia a capacidade de decorar informação “à bruta”?

Se ao invés desta salgalhada toda o último ano do curso fosse realmente profissionalizante, onde os alunos deveriam impressionar nos serviços por onde passassem e recolher o louvor dos seus tutores. Além disso teriam as disciplinas opcionais para direccionar o seu curso já para uma especialidade. O exame seria abolido e substituído por um exame mais geral em que apenas se avaliaria a capacidade ou não de o aluno passar a exercer a medicina autonomamente. Deste modo teríamos jovens empenhados e empreendedores nas enfermarias em vez de sombras que pairam pelas bibliotecas e cafés. Assim seriam muito mais importante a formação contínua e o incentivo à investigação (para quem dele gostar). Assim penso que daríamos um grande passo em frente e não 10 atrás.



PS: o plano curricular do 6º ano apresentado corresponde ao do último ano do curso de Medicina da Faculdade Medicina da Universidade do Porto. Acredito que os outros possam ter algumas alterações pontuais mas que não sejam muito diferentes, mas confesso que os desconheço por completo.

Comentários:

Completamente lógica e fundamentada a posição do "postador".
Só falta esclarecer um pequeno pormenor.
Os médicos - enquanto pares - terão a capacidade de isenção e a independência para "triar" e "encaminhar" os jovens médicos para as diferntes especialidades?

É somente uma pergunta.  

Não são os médicos que encaminham os jovens para as especialidades, mas sim os jovens que optam pelo que mais gostam.  

Peço desculpa pelo lapso.
Onde lê "os médicos" deverá ler:
- The establishment...  

aqueles que não forem isentos e não procurarem escolher o melhor para o seu serviço, "pagarão" pois não atingem os resultados que poderiam atingir e podem ser chamados a responder pelas suas responsabilidades.

Acho que é uma questão de começar a cobrar pelas responsabilidades dos cargos. Não devemos olhar para estes sistemas pensando logo nas maneiras como os ultrapassar às avessas mas sim no esforço que terá de ser despendido para atingir o objectivo. E quais os benefícios que se tiram desse esforço.  

Pois, a minha prima também anda a matar-se a estudar por causa desse exame. Mas será que as notas farão dela uma boa médica?? Não me parece...ela é uma aluna brilhante, mas sinceramente em termos de personalidade, não me parece que venha a ser uma médica humana, como tanta falta fazem (pelo menos nos hospitais pelos quais já passei). Vai limitar-se a dramatizar e a prescrever medicação. Pode ser que me engane...
*  

A ANEM e o seu departamento de Educalção Médica está a prepara com representantes dos 7 cursos um comparativo objectivo, sincero e mas suficientemente vasto para perceber pontos em comum e diferenças entre os diferentes 6os anos. Quando isso estiver online no site anem.p prometo avisar neste blog.
A questão do exame Harri é discutida h+a mais de uma dezena de anos.
Ordem dos Médicos e ANEM são a favor de reforma, mas parece dificil concretizar num exame que não fique demasiado permeável a pouca objectividade.
Em escolha multipla somos todos iguais.

Cumprimentos,
Luís Monteiro  
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