quinta-feira, fevereiro 03, 2005
Acreditem... é a mesma notícia!
A família de uma jovem de Darque, Viana do Castelo, que ontem morreu depois de “dias a fio a correr para o hospital” ameaça processar o Centro Hospitalar do Alto Minho por alegada negligência médica. “Ainda ontem a minha cunhada foi ao hospital duas vezes, cheia de dores de barriga, e das duas vezes a mandaram embora para casa. Receitaram-lhe uns comprimidos e disseram-lhe para ter paciência que as dores haveriam de passar. De manhã, dei por ela morta na cama”, contou Carla Costa. Segundo esta familiar, desde sexta-feira que a cunhada, de 26 anos, “andava a correr todos os dias para o hospital, sempre cheia de dores e de vermelhões no corpo”, mas “nunca foi vista com a atenção que justificava”, até porque a jovem tinha dado à luz a 7 de Janeiro, após uma “gravidez de risco”.“O parto foi de cesariana e os médicos decidiram fazer-lhe uma laqueação das trompas, por considerarem que uma futura gravidez poderia ter ainda maiores riscos. Ora, como se entende que uma pessoa com estes antecedentes vai ao hospital cheia de dores de barriga e mandam-na assim para casa, sem verem o que se passa?”, insurgiu-se Carla Costa. Garantiu que vai esperar pelo resultado da autópsia para saber por que razão a sua cunhada morreu e que, caso se venha a provar que houve negligência, processará o Centro Hospitalar do Alto Minho (CHAM), “para que a culpa não morra solteira”.
O director clínico do Centro Hospitalar de Viana do Castelo (CHAM), hospital onde foi atendida por várias vezes a jovem que acabaria por falecer e sobre o qual recaem agora acusações de negligência médica, anunciou ontem que foi aberto um processo de averiguação ao que terá acontecido na noite de anteontem.
De acordo com os familiares, Manuela Morgado, a jovem de 26 anos que acabaria por falecer em casa, terá sido atendida por cinco vezes naquela unidade, mas sem que tivesse ficado internada. Uma versão desmentida pelo CHAM, que apresenta o termo de responsabilidade assinado pela jovem na mesma noite e ainda o documento que comprova que esta teve "alta contra parecer médico".
Em declarações ao PÚBLICO, Adriano Magalhães revelou que a jovem, residente em Darque, Viana do Castelo, possui um longo historial clínico no CHAM e era já conhecida naquele hospital. "A mulher era conhecida porque era utente do regime de consulta externa, já que era toxicodependente. Era também seropositiva, tinha sífilis e possuía também antecedentes de bronquite crónica", argumentou o médico, sublinhando que as cinco entradas no Serviço de Urgência (SU) do CHAM eram relativas a três dias diferentes e que os sintomas eram de dores torácicas e falta de ar, sem qualquer sinal de febre alta.
Na unidade hospitalar, e no último dia de entrada no SU, salientou ainda o clínico, foram efectuadas radiografias ao tórax, abdómen e coluna e feitas análises sanguíneas, "tendo o médico concluído que a imagem pulmonar era compatível com o quadro de pneumonia". Só que "a doente recusou fazer a gasimetria [exame aos gases arteriais do sangue] ou ser submetida a qualquer outro tratamento", tendo abandonado a unidade hospitalar com "alta contra parecer médico" e com termo de responsabilidade, documento a que o PÚBLICO teve acesso.
Para o responsável, confrontado com as acusações de negligência médica e a possibilidade de existir um processo em tribunal, "será importante aguardar pelos resultados da autópsia [realizada ontem ao fim do dia e cujos resultados ficam agora sob segredo de justiça]". O CHAM já accionou os mecanismos para que fosse aberto um processo de averiguações.
Recorde-se que a família da jovem, que tinha um menino de apenas três semanas, alega que exigiu que a mulher ficasse internada, mas sem sucesso, pelo que esta terá falecido por falta de assistência em casa.
CrisVSousa
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